
Imagine carregar um dispositivo no tornozelo que sabe exatamente onde você está a cada segundo. Pois é, essa realidade já faz parte da vida de mais de 120 mil pessoas no Brasil — número que, diga-se de passagem, não para de crescer.
Os dados mais recentes mostram um retrato curioso (e às vezes preocupante) do sistema de monitoramento eletrônico no país. Enquanto alguns estados abusam da tecnologia, outros parecem ainda não ter entendido direito como usá-la.
Quem está sendo monitorado?
O perfil médio do "usuário" de tornozeleira? Homem, entre 25 e 35 anos, envolvido principalmente em crimes contra o patrimônio ou tráfico de drogas. Mas calma, não é tão simples assim.
- 7% são mulheres — porcentagem que vem aumentando nos últimos anos
- 15% estão em regime semiaberto
- Quase 30% cumprem medidas cautelares
E aqui vai um detalhe que pouca gente comenta: cerca de 3% dos monitorados são adolescentes em conflito com a lei. Polêmico, não?
Os campeões do monitoramento
Se fosse um campeonato, São Paulo levaria o troféu fácil. O estado concentra sozinho quase 40% de todas as tornozeleiras ativas no país — algo em torno de 47 mil dispositivos. Depois vêm:
- Minas Gerais (12 mil)
- Rio de Janeiro (9,5 mil)
- Paraná (7,8 mil)
Já no outro extremo, estados como Roraima e Amapá não chegam nem a 200 dispositivos cada. Será que é falta de demanda ou de estrutura?
Um especialista que preferiu não se identificar brincou: "Alguns estados estão monitorando até a sogra, enquanto outros nem sabem onde guardaram as tornozeleiras". Exagero? Talvez. Mas faz pensar.
O lado B da tecnologia
Apesar de ser vendida como solução mágica, o sistema tem seus percalços. Só no último ano:
- Mais de 1.200 dispositivos apresentaram falhas
- Cerca de 500 monitorados tentaram (alguns com sucesso) burlar o sistema
- Os gastos com manutenção ultrapassaram R$ 8 milhões
E tem mais — o monitoramento eletrônico está se tornando um negócio e tanto. Só em 2025, as empresas do ramo faturaram cerca de R$ 120 milhões. Dinheiro que, convenhamos, poderia estar sendo investido em prevenção.
No final das contas, a grande questão é: estamos usando a tecnologia para realmente reintegrar pessoas ou apenas criando uma versão high-tech do sistema penal? A resposta, como tudo na vida, não é preto no branco.