Acre lidera ranking nacional: mais de 60% dos presos trabalham enquanto cumprem pena
Acre: 60% dos presos trabalham durante pena

Num cenário que mistura esperança e contradição, o Acre se destaca no mapa do sistema prisional brasileiro. Não é pra menos — mais de 60% dos detentos no estado estão trabalhando enquanto cumprem suas penas. Um número que coloca o Acre no pódio nacional, ocupando a terceira posição nesse ranking peculiar.

Os dados, que parecem saídos de um roteiro de filme sobre reintegração social, revelam uma realidade que divide especialistas. De um lado, a oportunidade de ressocialização; de outro, questões trabalhistas espinhosas que ninguém quer encarar de frente.

Mão de obra atrás das grades

Nas unidades prisionais acreanas, os presos trabalham em atividades que vão desde artesanato até serviços de manutenção. Alguns chegam a produzir móveis e peças decorativas que são vendidas em feiras locais. Outros atuam na limpeza de espaços públicos — uma espécie de contrapartida social que gera debates acalorados.

"É complicado", admite um agente penitenciário que prefere não se identificar. "Você vê homens que cometeram crimes graves ganhando salários simbólicos, enquanto lá fora tem gente honesta desempregada."

Os números que impressionam

  • Acre: 60,3% dos presos trabalham
  • Média nacional: 38,7%
  • Taxa de ocupação: 142% (ou seja, as cadeias estão superlotadas)

Enquanto isso, nas ruas de Rio Branco, a capital acreana, a opinião pública se divide. "Melhor trabalhando do que planejando novos crimes", opina uma comerciante. Já um mototaxista é categórico: "Isso aí é exploração pura, meu irmão".

O debate esquenta quando se lembra que muitos desses trabalhadores prisionais recebem menos de um salário mínimo — quando recebem. A legislação permite, mas será justo? A pergunta fica no ar, sem resposta fácil.

Enquanto especialistas discutem teorias, lá dentro das celas superlotadas, o dia a dia segue seu curso. Com ou sem trabalho, a realidade das grades não muda. E o Acre, sem querer, vira caso de estudo num país que ainda não decidiu como lidar com seus presos.