
Imagine acordar todos os dias sem saber se vai sobreviver até o anoitecer. Foi assim, dia após dia, que Carlos* (nome alterado para proteger sua identidade) passou oito meses intermináveis no temido centro penal de segurança máxima de El Salvador.
O venezuelano, que fugiu da crise em seu país em busca de esperança, acabou caindo num pesadelo que ele descreve como "o inferno na terra". E olha que o cara já viu coisa feia na vida.
Da fuga à captura
Tudo começou quando Carlos tentava cruzar a fronteira entre Guatemala e El Salvador. "Fui abordado por policiais que me acusaram de pertencer a uma gangue", conta, ainda com a voz trêmula. "Nem sabia que gangue era aquela!"
Sem direito a defesa adequada - ou sequer a um tradutor -, o migrante foi jogado direto no sistema carcerário do país. E não em qualquer lugar: na penitenciária de máxima segurança de Zacatecoluca, conhecida por abrigar os criminosos mais perigosos da nação.
O cotidiano do terror
O que se segue é um relato que faria até o mais durão dos repórteres policiais arrepiar:
- Células superlotadas com até 50 homens num espaço para 15
- Água disponível apenas 1 hora por dia
- Violência entre presos como "esporte" diário
- Doenças de pele se espalhando como rastilho de pólvora
"Os guardas? Só observavam. Às vezes até riam", revela Carlos, com um misto de raiva e desespero na voz.
"Aqui não há direitos humanos"
Num momento especialmente arrepiante, o venezuelano descreve como testemunhou um preso ser espancado até a morte. "Ninguém fez nada. Nem os outros detentos, que já estavam anestesiados pela brutalidade."
E os números? Bem, eles falam por si só. Segundo organizações locais, a superlotação nas prisões salvadorenhas chega a assustadores 300% da capacidade. Uma bomba-relógio humana.
A luz no fim do túnel
Por um milagre - ou teimosia da vida -, Carlos conseguiu provar sua inocência após oito meses de pesadelo. Mas as marcas? Ah, essas ele carrega até hoje, tanto na pele quanto na alma.
"Só quem viveu sabe o que é passar fome, sede e medo ao mesmo tempo", desabafa, antes de completar: "E pensar que saí da Venezuela procurando uma vida melhor..."
Enquanto isso, El Salvador continua sua controversa guerra contra as gangues, deixando histórias como a de Carlos como mera estatística num sistema que parece ter esquecido o básico: até criminosos têm direitos. Ou deveriam ter.