
Numa daquelas decisões que fazem o país parar pra pensar — ou pelo menos deveriam —, a Justiça de Mato Grosso deu ontem um veredito que tá dando o que falar. O pecuarista que transformou 3 mil hectares do Pantanal num tapete de terra arrasada acabou de receber autorização pra retirar milhares de cabeças de gado da área. Sim, você leu certo.
O caso, que já vinha sendo acompanhado por ambientalistas desde 2023, agora ganha novos capítulos. A propriedade rural em questão, localizada no município de Poconé (a 104 km de Cuiabá), foi autuada por desmate ilegal — mas, pasme, o gado pode ser levado embora antes mesmo da conclusão do processo.
Os números que doem
3.140 hectares. É como se alguém tivesse apagado do mapa 4.400 campos de futebol daquele que é um dos ecossistemas mais frágeis do planeta. O Pantanal, aliás, que já sofre com secas históricas, agora enfrenta mais esse baque.
E olha que a ironia é grossa: enquanto o pecuarista comemora a decisão que lhe permite "salvar" o rebanho, biólogos calculam que a fauna local — araras-azuis, onças-pintadas e até espécies desconhecidas — levará no mínimo 30 anos pra se recuperar. Se é que vai.
O que diz a lei (e o que não diz)
O juiz argumentou que os animais não podem ser "penalizados" pelos crimes ambientais do dono. Mas aqui vai um detalhe que pouca gente comenta: parte desse gado foi criado justamente na área desmatada. Ou seja, virou instrumento do crime.
"É como devolver a um traficante as drogas apreendidas porque ele pode ter prejuízo", dispara um promotor que preferiu não se identificar. A Defesa do pecuarista, claro, vê a coisa por outro ângulo: "São seres vivos que precisam de cuidados, independentemente de questões jurídicas".
Enquanto isso, nas redes sociais, o assunto virou pavio de discussão. De um lado, ruralistas comemoram "o bom senso da Justiça". Do outro, cientistas postam fotos do rastro de destruição — com direito a comparações nada sutis com cenas de filme apocalíptico.