
Parece que a motosserra não tira férias. Os últimos dados do INPE — aqueles que ninguém quer ver, mas todo mundo precisa conhecer — pintam um cenário desolador: o desmatamento na Amazônia bateu recorde no primeiro semestre de 2025. E olha que estamos falando de números que deixariam até o mais otimista dos ambientalistas de cabelo em pé.
Os números que não mentem
Entre janeiro e julho, os satélites captaram 3.890 km² de vegetação nativa simplesmente evaporando. Isso equivale a:
- 2,5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo
- 543 mil campos de futebol
- Uma área que daria para abrigar 5 milhões de árvores
"É como assistir a um paciente na UTI perder litros de sangue e fingir que está tudo bem", dispara o pesquisador Marcos Oliveira, do Observatório do Clima, em tom de quem já cansou de dar o mesmo alerta.
Onde a coisa aperta
Os estados campeões dessa triste estatística? Pará (37% do total), Amazonas (28%) e Mato Grosso (19%). Nas bordas da floresta, o avanço da agropecuária segue implacável — enquanto nas áreas mais remotas, grileiros parecem brincar de "quem desmata mais".
E tem um detalhe que tira o sono: 68% dessa devastação ocorreu em terras públicas. Traduzindo: patrimônio de todos os brasileiros virando fumaça e pasto.
O sistema DETER não deixa escapar
O tal do DETER — aquele sistema de detecção em tempo real do INPE — está aí justamente para evitar surpresas. Só que os alertas diários, em vez de diminuírem, viraram uma enxurrada. Em julho, foram 1.213 focos registrados, número 43% maior que no mesmo período de 2024.
"Quando o alarme toca tanto, é porque a casa está mesmo pegando fogo", comenta, com ironia amarga, a bióloga Ana Beatriz Santos, enquanto analisa os mapas de calor no escritório em Brasília.
E agora?
Enquanto isso, no Planalto, o Ministério do Meio Ambiente promete "medidas duras" — expressão que já ouvimos tantas vezes que perdeu o sentido. O problema é que, na prática, os fiscais do IBAMA continuam com menos recursos que um time de várzea.
Os ruralistas, claro, têm outra visão. "Precisamos equilibrar produção e preservação", diz o presidente da bancada agrícola, como se equilíbrio e destruição fossem sinônimos.
Enquanto o debate segue nesse vai-e-vem, uma certeza: a floresta não espera. Cada hectare perdido é um golpe no clima, na biodiversidade e no futuro do país. E os números do INPE? Bem, eles apenas confirmam o que nossos olhos se recusam a ver.