
Parece que o cartão-postal de Pernambuco está perdendo o fôlego. Um estudo recente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) jogou luz sobre um problema que muitos fingiam não ver: as construções e reformas feitas nas coxas estão, literalmente, comendo o verde de Olinda.
Não é exagero. A pesquisa — que levou meses de trabalho de campo e análise de imagens de satélite — mostrou que áreas de vegetação nativa estão sumindo feito pó no vento. E o pior? Boa parte desse estrago vem de obras feitas sem alvará, aquelas que aparecem do nada, como cogumelos depois da chuva.
Patrimônio em perigo
Olinda não é qualquer cidade. Declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1982, ela carrega séculos de história nas ladeiras coloridas. Mas parece que alguns moradores e empreiteiros resolveram brincar de Deus e mudar a paisagem por conta própria.
"É um tiro no pé", comenta o professor que liderou a pesquisa, que prefere não ser identificado. "Além do dano ambiental, essas intervenções desordenadas podem colocar em risco o título de Patrimônio Mundial."
Números que assustam
- Redução de 12% na cobertura vegetal em áreas específicas nos últimos 5 anos
- Mais de 30% das novas construções analisadas apresentavam irregularidades
- Áreas de proteção permanente sendo usadas como quintais particulares
E não adianta botar a culpa só nos outros. O estudo aponta que tanto moradores antigos quanto novos investidores estão nessa dança — uns por falta de informação, outros por puro interesse financeiro.
O que diz a lei?
Aqui a coisa fica engraçada (se não fosse trágica). Olinda tem legislação específica para preservação, mas parece que virou letra morta. Qualquer um que já andou pelas ladeiras nos últimos anos viu: surgem muros onde não devia, sobem prédios que destoam da arquitetura local, e as árvores... bem, essas vão ficando pra trás.
"Tem gente que acha que pode fazer o que quer na própria propriedade", diz uma fiscal da prefeitura que pediu anonimato. "Só esquecem que moram num museu a céu aberto."
O estudo da UFPE não se limitou a apontar o problema. Os pesquisadores mapearam áreas críticas e sugeriram medidas urgentes, como:
- Fortalecimento da fiscalização municipal
- Criação de um sistema de monitoramento em tempo real
- Campanhas educativas para moradores e construtores
- Revisão dos processos de licenciamento
Enquanto isso, Olinda — aquela das belas paisagens que encantaram até os portugueses no século XVI — vai perdendo, tijolo por tijolo, parte do que a torna única. Resta saber se ainda dá tempo de frear essa bola de neve antes que seja tarde demais.