
Não foi um discurso qualquer. Longe disso. A voz do Brasil ecoou com uma força incomum nos corredores da Organização das Nações Unidas, em Nova York, durante a agitada Semana do Clima. A delegação, liderada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, não foi lá para fazer volume. Tinha uma missão clara e urgente: apresentar ao mundo o renascimento do Fundo Amazônia e, ao mesmo tempo, cutucar as grandes potências com um apelo direto – é hora de colocar metas climáticas mais ambiciosas e concretas na mesa.
O Fundo Amazônia, aquela joia da coroa da preservação ambiental que havia sido praticamente abandonada no governo anterior, voltou com tudo. E com uma vantagem estratégica: a chancela do BNDES para gerir os recursos. Só para ter uma ideia, o caixa do fundo está abarrotado, beirando a impressionante marca de R$ 5,6 bilhões. Dinheiro que, pasmem, ainda não saiu do papel por uma teia burocrática que envolve até o TCU. Uma ironia dolorosa, tendo em vista a emergência que vivemos.
O Recado Foi Dado: Chega de Promessas Vazias
Marina Silva não mediu palavras. Foi lá e disse, com todas as letras, que o mundo não pode mais se contentar com acordos genéricos. A próxima COP29, que vai rolar em Baku, no Azerbaijão, precisa ser diferente. Tem que sair do blá-blá-blá e entrar na era das ações mensuráveis, especialmente na criação de um novo fundo global para ajudar os países mais vulneráveis a lidarem com os estragos que já estão acontecendo.
E olha, o Brasil não quer ser só coadjuvante nessa história. A meta de desmatamento zero até 2030 foi reiterada como um compromisso firme. Mas a ministra foi além, defendendo uma transição energética justa – porque não adianta salvar o planeta deixando pessoas para trás – e a valorização das comunidades tradicionais, que são os verdadeiros guardiões da floresta.
O Lado B da Moeda: Os Desafios Internos
Enquanto isso, na outra ponta, em Brasília, o ministro Gilberto Kassab (Desburocratização) tentava destravar a máquina pública para que projetos sustentáveis, pasme, possam finalmente sair do papel. A meta é ambiciosa: liberar R$ 1,5 bilhão em linhas de crédito verde ainda este ano. Mas é uma corrida contra o tempo e contra a própria inércia do sistema.
E tem mais um ponto crucial que não pode ser ignorado. O Brasil levou para a ONU um pedido de doação de quase R$ 350 milhões para um projeto de restauração de biomas. Um sinal claro de que, apesar de todo o protagonismo, o país ainda precisa de parceria internacional para bancar a conta da preservação. Será que o mundo vai corresponder?
A sensação que fica é a de que o Brasil retomou seu assento na mesa das discussões climáticas globais. Mas entre o discurso poderoso em Nova York e a realidade complexa do chão da floresta, há um abismo que só será vencido com ação, recursos e uma pressão constante. O tempo, como bem lembrou a ministra, não está do nosso lado.