Brasil fora do Mapa da Fome? Desertos e pântanos alimentares ainda assombram o país
Brasil fora do Mapa da Fome, mas com desertos alimentares

Parece contraditório, não é? O Brasil, celeiro do mundo, aquele que alimenta nações, ainda convive com bolsões de insegurança alimentar que dariam inveja aos piores cenários distópicos. A gente até saiu do Mapa da Fome da ONU — ufa! — mas a realidade nas periferias e interiores conta outra história.

O que ninguém te conta sobre os 'desertos' da comida

Imagine caminhar quilômetros e não encontrar sequer uma feira livre, um mercadinho de bairro que venda frutas frescas. É isso que os especialistas chamam de 'desertos alimentares' — regiões onde conseguir um tomate parece missão impossível. E não, não estamos falando do sertão nordestino (que tem seus próprios dramas), mas de bairros periféricos de grandes cidades como São Paulo e Rio.

Do outro lado da moeda — ou melhor, do balcão do fast-food — estão os 'pântanos alimentares'. Locais onde a única opção são comidas ultraprocessadas, cheias de sal, açúcar e gordura. Convenhamos: é mais fácil achar um salgadinho de pacote do que uma banana na esquina de muitos bairros.

Os números que doem no estômago

  • 33 milhões de brasileiros ainda enfrentam insegurança alimentar grave
  • 6 em cada 10 habitantes de periferias urbanas vivem em desertos ou pântanos alimentares
  • O preço dos alimentos saudáveis subiu 3 vezes mais que o dos ultraprocessados nos últimos 5 anos

E aqui vai um paradoxo que dá nó no cérebro: muitas vezes, nas mesmas ruas onde falta comida de verdade, sobra propaganda de delivery de comida industrializada. Ironia? Crueldade? Negócios como sempre?

Quando a geografia da fome vira herança maldita

Os velhos mapas de Josué de Castro — aquele gênio que já nos anos 1940 mostrava como a fome tinha CEP no Brasil — parecem ter virado profecia autorrealizável. As regiões que ele apontou como críticas continuam sofrendo, só que agora com uma roupagem 'moderna': não falta necessariamente comida, mas sim comida que nutre.

E olha que curioso: enquanto o agronegócio bate recordes de exportação, tem gente no país do agro passando fome ou se alimentando mal. Alguém aí disse 'injustiça social'?

O que pode ser feito?

  1. Políticas públicas com endereço certo: programas como o PAA (Compras da Agricultura Familiar) precisam chegar de fato nas áreas mais vulneráveis
  2. Educação alimentar desde cedo: escolas poderiam ser centros de resistência nutricional
  3. Regulação da publicidade: limitar a propaganda de alimentos ultraprocessados em áreas vulneráveis

No fim das contas, sair do Mapa da Fome foi importante, mas não suficiente. Enquanto tivermos brasileiros escolhendo entre comer mal ou não comer, a vitória estará pela metade. E convenhamos: num país que produz comida para o mundo inteiro, isso é, no mínimo, constrangedor.