
Quem frequenta os parques da zona oeste de São Paulo anda levando sustos que não são de filme de terror – mas quase. Os macacos-prego, antes vistos como figuras simpáticas da fauna local, estão agindo como verdadeiras gangues urbanas. E o motivo? Comida. Ou melhor, a falta dela no habitat natural.
Na USP, a situação chegou a um ponto crítico. Os primatas, que deveriam se alimentar de frutas e insetos, agora reviram lixeiras, roubam lanches de estudantes e até atacam visitantes desavisados. "É como se tivessem perdido o medo do ser humano", comenta o biólogo Marcos Aurélio Silva, que estuda o comportamento desses animais há 15 anos.
O que está por trás da mudança de comportamento?
Três fatores principais explicam essa transformação radical:
- Alimentação inadequada: visitantes que insistem em oferecer biscoitos, salgadinhos e até refrigerantes
- Destruição do habitat: áreas verdes cada vez mais fragmentadas pela expansão urbana
- Falta de fiscalização: placas de "não alimente os animais" ignoradas diariamente
O resultado? Macacos que deveriam pesar entre 2 e 4 kg aparecem com quase 7 kg – obesidade pura, causada por junk food. E pior: desenvolveram uma preferência perigosa por alimentos industrializados.
Riscos que vão além dos arranhões
Não se trata apenas de sustos ou arranhões superficiais. A convivência forçada traz perigos reais:
- Transmissão de doenças: de herpes a hepatite, várias enfermidades podem saltar entre espécies
- Desequilíbrio ecológico: populações crescendo além da capacidade do ambiente
- Acidentes graves: ataques a crianças e idosos já foram registrados
"É uma bomba-relógio", alerta a veterinária Patrícia Campos. "Quanto mais eles se acostumam com humanos, maior o risco de tragédias."
Enquanto isso, nos parques da cidade, a cena se repete: turistas fotografando os "bichinhos fofos" enquanto lhes oferecem pedaços de pão – ignorando completamente que estão contribuindo para um problema que pode sair totalmente do controle. Afinal, quem manda aqui: a natureza ou nossos hábitos urbanos?