Leilão de Lixo Atômico Vira Quebra-Cabeça Bilionário: Entenda o Impasse que Paralisou a Venda
Leilão de lixo atômico é prorrogado sem compradores

Parece coisa de filme de ficção científica, mas é a pura realidade: um leilão envolvendo materiais que valem uma fortuna, mas ninguém quer comprar. Estamos falando de nada menos que R$ 13,5 milhões em... lixo. Só que não é um lixo qualquer. É o tipo que brilha no escuro, metaforicamente falando.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) tentou mais uma vez leiloar uma série de resíduos radioativos. E deu com os burros n'água. De novo. A terceira tentativa, marcada para esta segunda-feira (22), simplesmente não encontrou interessados. Um silêncio ensurdecedor no pregão que obrigou o adiamento para 3 de outubro. Algo está claramente fora da curva nessa equação bilionária.

O que exatamente está à venda? (E por que é tão complicado)

Não se trata de vender sucata comum. O leilão, conduzido pela B3, a bolsa de valores de São Paulo, oferece itens que saíram de serviço das usinas nucleares de Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio. São componentes que ficaram "contaminados" pela radiação após anos de uso. Pense em bombas, trocadores de calor, válvulas... uma parafernália industrial pesada que acumulou uma assinatura radioativa.

E aqui mora o grande X da questão. Qual é o destino final disso? A ideia da CNEN é que empresas especializadas – as únicas autorizadas a lidar com esse material – comprem, descontaminem e depois revendam o metal comum que sobrar. Soa simples no papel, mas na prática é um labirinto de custos, logística e burocracia. A sensação que fica é a de que o risco supera, e muito, a recompensa financeira.

Um jogo de paciência (e muito dinheiro parado)

Essa novela já se arrasta desde agosto. O primeiro leilão, no dia 11, não atraiu um único lance. O segundo, em setembro, repetiu o fiasco. Agora, a terceira rodada segue o mesmo roteiro frustrante. É um imbróglio que joga luz sobre um problema crônico: o que fazer com os rejeitos da energia nuclear no Brasil?

Enquanto isso, os materiais continuam armazenados, sob vigilância constante, esperando um destino. Um destino que, pelo visto, não chega tão cedo. O adiamento sucessivo levanta dúvidas profundas sobre a viabilidade do modelo. Será que o preço está salgado? Ou os entraves técnicos e legais são intransponíveis? A falta de respostas é, por si só, uma resposta alarmante.

O fato é que o leilão do lixo atômico se transformou num verdadeiro quebra-cabeça para as autoridades. Um enigma bilionário que, até agora, ninguém conseguiu – ou quis – resolver. Fica o impasse: como dar um fim comercial a algo que, paradoxalmente, todo mundo trata como um problema sem solução?