
Quem diria que algo tão frágil quanto uma flor poderia se tornar símbolo de resistência? Em Blumenau, uma artesã de 52 anos — que prefere não revelar o nome — encontrou na natureza a força para recomeçar depois de um verdadeiro terremoto pessoal.
Primeiro veio a falência do negócio da família. Depois, a depressão que quase a levou. E quando achou que já tinha sofrido o suficiente, um diagnóstico de câncer de mama. "Foi como se o chão sumisse", conta ela, com aquela voz que mistura tristeza e esperança.
O acaso que virou propósito
Tudo começou numa tarde chuvosa, dessas que só acontecem no Vale do Itajaí. Enquanto arrumava o jardim — terapia que descobriu durante o tratamento —, notou como as pétalas caídas mantinham cores vibrantes. "E se eu pudesse eternizar essa beleza?".
Do questionamento ingênuo nasceram as primeiras biojoias:
- Pétalas cuidadosamente selecionadas
- Processo de secagem que preserva cores e texturas
- Resina ecológica como "tela" para as criações
Nada de fórmulas prontas ou cursos caros. A técnica foi desenvolvida na base da tentativa e erro — muito erro, ela admite rindo. "Queimou flor? Queimou. Resina que não secou? Várias. Mas cada falha me ensinou algo".
Mais que adornos, histórias
O que começou como terapia ocupacional virou fonte de renda e, quem diria, até pequena fama local. As peças — brincos, colares, anéis — carregam algo que vai além do estético:
- Cada flor usada tem significado pessoal
- As cores refletem emoções da jornada da artesã
- Até as "imperfeições" são incorporadas como marca registrada
"Minhas joias falam de recomeço", explica, mostrando um par de brincos com rosas desbotadas. "Essas sobreviveram ao inverno mais cruel. Como eu".
Clientes relatam que usar as peças provoca conversas inesperadas. "É impressionante quantas pessoas se identificam com a história por trás de cada criação", observa uma frequentadora assídua da feira onde a artesã expõe aos sábados.
O futuro entre pétalas
Com encomendas crescendo — inclusive de outros estados —, a pequena produção caseira ganha ares de negócio sustentável. Mas a artesã faz questão de manter o processo artesanal:
- Nada de produção em massa
- Matérias-primas locais e sazonais
- Embalagens recicladas e recicláveis
"Não quero virar indústria", diz, enquanto separa margaridas para a próxima leva de colares. "Cada peça precisa guardar a essência do que me salvou: paciência, cuidado e respeito pelos ciclos da vida".
Para quem pergunta se vale a pena tanto trabalho manual, ela responde com outra pergunta: "Você já viu uma flor desabrochar com pressa?".