
Há oito dias, o céu do interior do Piauí não é azul — é cinza. E não por causa das nuvens, mas por uma cortina de fumaça que teima em não desaparecer. O fogo, esse vizinho indesejado, resolveu fazer uma visita prolongada e agora os bombeiros correm contra o relógio (e contra o vento, que não ajuda nem um pouco) para botar fim na festa.
Não é brincadeira. As chamas já devoraram uma área equivalente a centenas de campos de futebol — e olha que nem estamos na temporada de queimadas, hein? Os profissionais, suando a camisa literalmente, usam de tudo: desde abafadores até aviões pipa, aqueles que despejam água como se fosse uma torneira celestial.
O que torna esse incêndio diferente?
Primeiro, a teimosia. Normalmente, em 48 horas a coisa tá controlada, mas esse aqui parece ter personalidade própria. Segundo, o terreno acidentado, cheio de morros e grotões que viram verdadeiras pistas de corrida para as labaredas. E terceiro — ah, o terceiro motivo é aquele que ninguém quer falar: falta de chuva há meses, deixando a vegetação mais seca que biscoito de polvilho.
Os moradores das redondezas, coitados, vivem um misto de preocupação e resiliência. "A gente acorda com cheiro de fumaça e vai dormir com o mesmo perfume", brinca um senhor de 62 anos, enquanto observa a coluna de fumaça ao longe. A ironia, claro, esconde o medo real de perder casas ou lavouras.
E agora, José?
Os bombeiros garantem que estão no controle — ou pelo menos tentando estar. A estratégia? Criar aceiros, aquelas faixas sem vegetação que funcionam como barreiras para o fogo. Só que com o vento mudando de ideia a cada três horas, parece jogar xadrez com peças que se movem sozinhas.
Enquanto isso, especialistas em clima torcem o nariz: "Isso aqui é só o aperitivo do que pode vir com as mudanças climáticas", solta um deles, entre um cálculo e outro de umidade relativa do ar. A frase ecoa como um alerta que, convenhamos, ninguém parece muito disposto a ouvir direito.
O certo é que, enquanto o fogo não dá trégua, os heróis de botas e capacetes seguem na linha de frente. Sem glamour, sem holofotes — só com muita coragem e litros e litros de água. Resta saber quando a natureza vai decidir colaborar.