
Eis que a Justiça paraense resolveu cutucar um vespeiro que muita gente talvez preferisse deixar quieto. Numa decisão que ecoa como um trovão em dia seco, o Tribunal de Justiça do Pará aceitou a denúncia contra dois ex-secretários de Saúde do estado – Bernardo Cardoso e Ruy Barbosa – por suposta fraude na compra de respiradores durante aqueles dias sombrios da pandemia.
Parece que foi ontem, mas já se vão mais de três anos desde que hospitais colapsavam e o desespero por equipamentos salvava vidas – ou enchia bolsos, dependendo de quem você era.
Os números que não fecham
O cerne da questão? Valores que beiram o surreal. Segundo o Ministério Público, os aparelhos foram adquiridos por preços até quatro vezes superiores ao mercado. Quatro vezes! Enquanto cidadãos comuns faziam vaquinhas para comprar oxigênio, alguns gestores publicavam editais com cifras que mais pareciam números de loteria.
A operação de fiscalização, batizada de 'Respira Pará', desvendou um esquema que – pasmem – envolvia até uma empresa de fachada. A ZM Empreendimentos, sediada num endereço comercial em São Paulo que na prática não passava de uma sala vazia, teria sido usada como intermediária fantasma.
O modus operandi
Como funcionava a artimanha? Basicamente assim:
- Editais eram lançados com exigências técnicas tão específicas que só uma empresa conseguia atender
- Prazos absurdamente curtos – porque numa emergência, né, tudo precisa ser rápido
- Preços que faziam até o mais leigo dos cidadãos levantar sobrancelhas
- Pagamentos adiantados, é claro
Não é como se não houvesse alternativas. O próprio MP encontrou fornecedores sérios que cobravam até 75% menos pelos mesmos equipamentos. Mas adivinhem? Esses foram magicamente desclassificados nos processos.
As consequências
Agora os ex-gestores respondem por crimes de:
- Fraude em licitação
- Formação de quadrilha
- Corrupção ativa e passiva
E não são só eles na berlinda. Diretores da tal empresa ZM também foram denunciados. O que me faz pensar: será que algum dia aprenderemos? Enquanto isso, o governo estadual se limita a dizer que 'respeita a decisão judicial' e que 'o caso segue na Justiça'. Traduzindo: não é problema nosso mais.
O pior de tudo? Essa história não é sobre números em planilhas. É sobre vidas que poderiam ter sido salvas – ou pelo menos, sobre dinheiro que poderia ter comprado muito mais equipamentos. Mas quem se importa com isso quando há comissões gordas envolvidas?
Resta torcer para que a Justiça – lenta como sempre é – finalmente faça seu trabalho. Porque se tem uma coisa que a pandemia nos ensinou é que alguns vírus sociais são muito mais difíceis de erradicar que o COVID.