
Quem passa pelo centro histórico de Paraty nesta época do ano precisa se preparar para um espetáculo inusitado: as ruas de paralelepípedos viram espelhos d'água, refletindo as fachadas coloniais como num quadro impressionista. Não é magia — é a natureza mostrando sua força.
Nos últimos dias, a maré alta tem invadido áreas urbanas com uma intensidade que assusta até os moradores mais antigos. "Parece que a cidade está engolindo o mar", comenta Dona Maria, dona de uma pousada na região, enquanto tira fotos dos turistas com água pelos joelhos.
Por que isso acontece?
Três fatores se unem como peças de um quebra-cabeça:
- Lua cheia: a atração gravitacional é mais forte
- Ventos do leste: empurram as águas para o continente
- Aquecimento global: o nível do mar subiu 15cm no último século
E tem mais — a geografia local não ajuda. Paraty fica num golfo natural, como uma concha aberta recebendo as águas. Quando tudo isso se junta, o resultado é aquela cena que viralizou: carros quase flutuando, gente descalça e um inevitável "faz parte do charme".
Impacto real
Por trás das fotos pitorescas, há problemas sérios:
- Comércios perdem até 40% do movimento nos dias de maré alta
- Infiltrações em construções históricas
- Risco de acidentes elétricos
"A gente já sabe quando vai acontecer, mas nunca estamos 100% preparados", admite um guia turístico local, enquanto ajuda idosos a atravessar a "Rua do Fogo", que mais parece um rio raso.
E o futuro?
Especialistas alertam: isso vai piorar. Com a elevação do nível do mar, em 30 anos parte do centro pode ficar permanentemente alagada. Enquanto isso, Paraty segue dançando com as marés — literalmente. Quem visita hoje leva na memória (e no celular) uma cidade que parece flutuar entre o passado e um futuro incerto.