
Não é todo dia que o rio devolve o que leva. Dessa vez, porém, o Rio Doce — aquele mesmo que corta Ipaba como uma cicatriz líquida — trouxe de volta o que ninguém esperava. Um idoso, ainda não identificado, foi encontrado sem vida nas águas turvas na manhã desta sexta-feira (19).
Segundo testemunhas (e aqui a voz do povo é mais eloqüente que qualquer relatório), o corpo bojava perto da margem, entre galhos e folhas secas, como se o rio tivesse hesitado antes de entregá-lo. Os bombeiros chegaram rápido, mas já era tarde — a cena tinha aquele silêncio pesado que só a morte consegue carregar.
O que se sabe até agora?
Pouco. Demais. As autoridades — sempre cautelosas — não soltaram nome, idade exata ou causa da morte. Sabe-se apenas que:
- O homem aparentava ter mais de 60 anos
- Vestia roupas simples, já esfarrapadas pela correnteza
- Não havia documentos ou objetos pessoais
Um delegado que prefere não ser identificado (porque, bem, você conhece como é) comentou, entre um gole de café requentado e outro, que pode ter sido um acidente. "Ou não", completou, com aquele ar de quem já viu demais.
E a comunidade?
Ah, Ipaba não é grande, mas é daquelas cidades onde todo mundo sabe — ou acha que sabe — de tudo. Na pracinha, o assunto dominou as conversas:
"Pode ser o seu Zé que sumiu semana passada", arriscou Dona Maria, 72, enquanto ajustava os óculos. "Mas também lembra o João da padaria", rebateu um rapaz, antes de dar uma tragada no cigarro.
Enquanto isso, o rio segue seu curso, indiferente. Como sempre.