
Algumas histórias parecem ter saído de roteiros de cinema — e essa, com certeza, é uma delas. Imagine a cena: um jato executivo Cessna 560, cortando os céus de São Paulo com 24 almas a bordo, quando, de repente, o impensável acontece. Os tanques secam. O silêncio ensurdecedor dos motores apagados. E aí, o que fazer?
Pois bem, era 2 de setembro de 2002. Uma data que os envolvidos dificilmente esqueceriam. O avião, que havia decolado de Ribeirão Preto com destino a Jales, simplesmente ficou sem combustível. No ar. Parece coisa de amador, mas as investigações depois apontaram uma sequência de falhas humanas e técnicas que se entrelaçaram de forma quase cruel.
Minutos de tensão máxima
O comandante Edson Luiz Siqueira e o copiloto não tiveram tempo para pânico. A decisão precisava ser rápida e certeira. Avistaram a rodovia Washington Luís, na região de São José do Rio Preto, e miraram a pista asfáltica como se fosse sua única tábua de salvação — porque era.
E não é que eles conseguiram? O pouso foi forçado, sim, mas tão bem executado que o avião parou intacto. Ninguém se feriu gravemente. Alguns passageiros saíram com escoriações leves, outros apenas com o susto de terem vivido uma experiência que ninguém deseja repetir.
As causas: uma cadeia de erros
O relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) foi claro: o cálculo de combustível foi subestimado. O avião decolou com menos querosene aviation (QAV) do que era necessário. Além disso, o peso da aeronave estava acima do permitido — detalhes que, somados, criaram a tempestade perfeita para o quase desastre.
Ah, e tem mais: a rota original previa voar sem escalas, mas condições climáticas fizeram com que o piloto desviasse. Só que ninguém recalculou o consumo de combustível com a nova trajetória. Um erro crasso, mas que serve até hoje como estudo de caso em escolas de aviação.
O legado 23 anos depois
Esse episódio, felizmente sem vítimas fatais, reverberou na aviação nacional. Mudou procedimentos, aumentou a rigidez nas fiscalizações e, principalmente, mostrou como a experiência de um comandante — somada à sorte — pode virar o jogo mesmo nas situações mais críticas.
O comandante Edson, aliás, foi amplamente elogiado. Sua habilidade fez a diferença entre o trágico e o "apenas" dramático. E os passageiros? Bem, esses ganharam uma história e tanto para contar nos churrascos de família.
Passados 23 anos, o caso segue como um alerta. Um daqulem que a gente lembra e pensa: "por pouco". Mas também como exemplo de que, mesmo quando tudo parece perdido, um bom profissional no comando pode — literalmente — pousar essa história direito.