
Imagine acordar e descobrir que sua casa está interdita — sem aviso prévio, sem plano B. Foi exatamente isso que aconteceu com dezenas de moradores de Valparaíso de Goiás, que agora vagam entre a indignação e o desamparo.
As obras — essas tais que prometiam "melhorias" — viraram sinônimo de caos. E o poder público? Sumiu no mundo da lua. "A gente vira refém de uma situação que não criou", desabafa Maria (nome fictício), mãe de dois filhos pequenos.
Obra avança, direitos recuam
O cenário é digno de filme distópico: máquinas rugindo, tapumes fechando ruas inteiras, e famílias jogadas à própria sorte. Algumas casas, segundo relatos, apresentaram rachaduras assustadoras após o início dos trabalhos. Outras foram simplesmente declaradas inabitáveis — do nada.
- Falta de diálogo: "Ninguém veio explicar direito, só chegaram com a ordem de desocupar"
- Alojamento? Risos. "Nos ofereceram um abrigo a 15 km, sem transporte"
- Indenização: Nem sinal — só promessas vagas e protocolos burocráticos
E enquanto isso, a prefeitura emite notas genéricas sobre "priorizar a segurança da população". Ironia pesada, considerando que várias crianças agora dormem em casas de parentes apertadas.
O lado humano do descaso
Dona Cleide, 62 anos, mostra a geladeira encostada na varanda: "Tive que tirar tudo antes que caísse no vão". Seu quintal — antes espaço de horta e convívio — hoje é um penhasco artificial.
Jovens casais dividem colchões emprestados. Idosos dependentes foram deslocados às pressas. Até os bichos de estimação entraram no drama, alguns desaparecidos no rebuliço.
"Isso aqui tá mais parecendo zona de guerra do que cidade planejada", comenta um morador, olhando para o buraco onde era sua garagem.
E agora?
Enquanto a Defensoria Pública anuncia "medidas judiciais" (leia-se: processos que podem levar anos), a comunidade se organiza como pode:
- Vaquinhas online para aluguel temporário
- Protestos silenciosos com faixas caseiras
- Pressão em redes sociais — única linguagem que o governo parece entender
O caso expõe uma velha ferida brasileira: quando o "progresso" chega sem planejamento, quem paga a conta é sempre o mesmo — o cidadão de carne e osso.