
Numa jogada que pode revolucionar o escoamento de cargas no Brasil, o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) colocou as hidrovias no centro das atenções. E não foi só discurso bonito — a aposta é concreta, estratégica e, diga-se de passagem, um tanto tardia.
"É como descobrir que temos uma Ferrari na garagem, mas insistimos em andar de bicicleta", comparou o ministro, durante evento no litoral paulista. A metáfora, embora exagerada, ilustra bem o potencial subutilizado dos nossos rios.
Por que agora?
Três motivos saltam aos olhos:
- Custo-benefício: transportar por água chega a ser 5 vezes mais barato que o modal rodoviário
- Sustentabilidade: menos caminhões nas estradas significa redução de emissões
- Capacidade: um comboio hidroviário equivale a 200 caminhões — matemática simples
Mas calma lá que não é tão simples. O Brasil tem apenas 19 mil km de hidrovias utilizáveis, contra 50 mil na Europa. "Estamos décadas atrasados", admitiu Costa Filho, com rara franqueza.
O que muda na prática?
Além da verba já anunciada para a hidrovia Tietê-Paraná (aquela que corta São Paulo e Mato Grosso do Sul), o ministro sinalizou:
- Modernização dos terminais portuários
- Parcerias com setor privado — "sem burocracia", prometeu
- Integração com ferrovias e rodovias (os tais "corredores multimodais")
Curiosamente, o discurso ocorreu justamente quando o Porto de Santos bate recorde de congestionamento. Coincidência? Difícil acreditar.
Especialistas ouvidos pelo evento foram categóricos: "Ou investimos nas hidrovias agora, ou continuaremos reféns dos caminhões". E olha que ninguém ali era exatamente um entusiasta do governo.
Resta saber se o plano sairá do papel. Afinal, promessas de melhorar a infraestrutura logística são tão comuns no Brasil quanto sol no verão. Mas desta vez... será que vai?