
Um pesadelo de fogo e fumaça tomou conta da Vila dos Pescadores nesta madrugada. As labaredas — que começaram por volta das 3h — devoraram pelo menos 30 casas de madeira suspensas sobre o mangue, deixando um rastro de destruição que cheira a carvão e desespero.
"Parecia um inferno na água", descreve Seu Zé, morador há 22 anos, enquanto segurava o que sobrou de sua geladeira: uma porta amassada e um ímã de "Deus é fiel".
O desastre
Os bombeiros chegaram rápido, mas enfrentaram o pior inimigo possível:
- Ventos de até 40km/h espalhando as chamas feito línguas de dragão
- Estruturas de madeira velha que ardiam como palha
- O acesso complicado — afinal, como chegar rápido a casas que flutuam?
Até o meio-dia, seis viaturas ainda cuspiam água sobre os escombros fumegantes. Um helicóptero do Grupo Resgate sobrevoava a área — aquela visão aérea que sempre aparece no Jornal Nacional, mas que ninguém quer viver.
O retrato humano
Na escola municipal transformada em abrigo, Dona Maria segurava três sacolas plásticas com tudo que conseguiu salvar: "Foto dos meus netos, remédio de pressão e a panela de feijão que estava fria".
Enquanto isso, adolescentes gravavam stories com os celulares — a tragédia como pano de fundo para likes. "A gente já perdeu tudo mesmo", justificou um deles, entre selfies e a fumaça.
E agora?
A prefeitura prometeu:
- Kit emergencial (colchão, cesta básica e material de limpeza)
- Avaliação estrutural das palafitas remanescentes
- Doações através do CRAS local
Mas os moradores sabem: promessa em tragédia é como guarda-chuva de papel. Enquanto isso, o cheiro de queimado impregna até a roupa do varal — aquela ironia cruel de ter sobrevivido ao fogo, mas não ao seu rastro.