Tragédia na maior favela sobre palafitas: idosa morre em incêndio ao tentar resgatar pertences
Idosa morre em incêndio ao voltar para casa em chamas

O fogo avançava rápido, devorando madeira e sonhos. Dona Maria, 72 anos, já estava a salvo — mas o coração apertou. "Meus documentos, as fotos do neto...". Naquela decisão fatal, voltou. E não saiu mais.

A cena aconteceu na madrugada de quinta-feira, na comunidade conhecida como "Veneza Brasileira" — ironia cruel para o maior aglomerado de palafitas do país. Bombeiros levaram 40 minutos para chegar, enfrentando ruas estreitas e a maré alta que dificultou o acesso.

O que se sabe até agora:

  • O incêndio começou por volta das 3h15, possivelmente por curto-circuito
  • 8 famílias ficaram desabrigadas — a madeira seca fez o fogo se alastrar como rastilho de pólvora
  • Dona Maria era a mais antiga moradora, com 22 anos na comunidade

Os vizinhos ainda tremem ao lembrar. "Ela gritou que ia só pegar uma caixinha. A fumaça engoliu ela num piscar de olhos", conta o pedreiro Raimundo, 54, com a voz embargada.

Falta de estrutura mata mais que o fogo

Especialistas apontam o óbvio: palafitas + eletrificação precária = tragédia anunciada. Só neste ano, foram 14 incêndios em comunidades similares na Baixada Santista. E a pergunta que não quer calar: quando a "Veneza Brasileira" vai deixar de ser uma metáfora da negligência?

O corpo de Dona Maria foi velado na própria comunidade. No caixão simples, além das fotos que tentou salvar, alguém deixou um barquinho de papel — homenagem silenciosa à vida que se foi entre as águas e as chamas.