
A cena se repete diariamente nos pontos de ônibus de Ribeirão Preto: rostos cansados, corpos comprimidos, e aquele silêncio pesado de quem já perdeu a paciência. A superlotação nos coletivos virou regra, não exceção — e tá todo mundo de saco cheio.
Não é exagero dizer que a situação beira o insuportável. Imagine esperar 40 minutos sob um sol de rachar pra, quando o busão finalmente chegar, ele já vir igual lata de sardinha? Pois é. Essa é a realidade de milhares de ribeirão-pretanos que dependem do transporte público pra trabalhar, estudar, viver.
Relatos de quem vive o aperto todos os dias
"É desumano", solta uma senhora que prefere não se identificar. "Já perdi compromisso, chego atrasada no serviço, e o pior: sem condições mínimas de conforto." Ela não está sozinha. Outros passageiros reclamam de viagens em pé, apertados, sem ventilação adequada — um verdadeiro teste de resistência física e mental.
E não para por aí. Tem gente que já desistiu de tentar embarcar no primeiro ônibus que passa. "Deixo dois, três lotados pra trás. Se ficar esperando o vazio, não chego nunca", comenta um estudante, enquanto ajusta a mochila nas costas, já se preparando para a próxima investida.
Frota, intervalos e a sensação de abandono
O que mais espanta — ou talvez não — é que o problema não é novo. Já virou quase uma tradição indesejada na cidade. E aí a pergunta que não quer calar: cadê os ônibus? Cadê os horários? Cadê o planejamento?
Alguns usuários até tentam entender: será que a frota diminuiu? Os intervalos aumentaram? Ou será que simplesmente botaram mais gente pra circular na cidade sem aumentar a oferta de transporte? Seja como for, o resultado é esse: gente irritada, estressada, e um sistema que claramente não dá conta.
Além do desconforto: os riscos escondidos
Não é só questão de incômodo, viu? Tem gente idosa que mal consegue se segurar. Grávidas que evitam sair de casa. Pessoas com mobilidade reduzida que simplesmente desistem de usar o transporte. E aí, como fica o direito de ir e vir?
Sem falar na questão da segurança. Ônibus superlotados são terreno fértil para assédio, furtos e — em tempos de surtos de doenças — verdadeiras incubadoras de transmissão. Mas, pelo visto, ninguém lá em cima tá muito preocupado com isso.
Enquanto isso, a cidade segue. Os ônibus continuam passando cheios, e a população se vira como pode. Uns reclamam nas redes sociais, outros protestam, a maioria só suspira e segue a vida. Mas uma coisa é certa: Ribeirão Preto merece mais que isso. Merece um transporte público que funcione — e que respeite quem paga por ele todos os dias.