
Era pra ser mais um dia comum. Aquela sexta-feira, 26 de setembro, amanheceu como tantas outras na vida de Lucas Gabriel dos Santos. Mas o destino, esse sujeito imprevisível, tinha outros planos — dos piores, diga-se de passagem.
Por volta das 7h30, na GO-222, perto de Anápolis, o carro que Lucas dirigia colidiu frontalmente com um caminhão. Dois outros caminhões que vinham atrás não conseguiram evitar o pior e se envolveram no acidente. Uma verdadeira cena de filme de terror, só que real, com direito a ferragens retorcidas e sonhos despedaçados.
Mais que um corretor, um batalhador
Lucas não era apenas mais um profissional do mercado imobiliário. Aos 32 anos, ele já tinha construído — ou melhor, estava construindo — uma reputação sólida. Trabalhava na Imobiliária Mix, mas seu olhar ia além dos contratos e visitas a imóveis.
Tinha aquela coisa rara hoje em dia: paixão pelo que fazia. "Sempre muito dedicado e esforçado", lembra um colega de trabalho, com a voz meio embargada. O cara não media esforços para atender bem os clientes — e olha que no ramo imobiliário isso é mais valioso que ouro.
Os planos que a morte adiou
Aqui é que a coisa dói mais: Lucas estava prestes a dar um salto na carreira. Já tinha conseguido o temido — e desejado — registro no CRECI. Estava se preparando para abrir o próprio negócio, sua própria imobiliária. Que ironia cruel, não? Conseguir a chancela oficial para então ter a vida cancelada.
Não era só trabalho, claro. Nos momentos de folga, o cara se transformava. Adorava pescaria — aquela terapia silenciosa onde só importam o rio, a vara e os pensamentos. E futebol? Era outra paixão. Dizem que até jogava bem, mas quem sou eu para confirmar isso.
O vazio que ficou
Agora imagine a cena: uma família inteira tentando processar o inexplicável. Os pais, Neusa e Gerson, aquela dupla que certamente sonhava ver o filho prosperar. A irmã, Larissa, que provavelmente tinha nele não só um irmão, mas um confidente.
E os amigos? Esses estão espalhados por aí, cada um lidando com a ausência à sua maneira. Alguns postando mensagens nas redes sociais — aqueles tributos digitais que soam tão insuficientes perto da dor real.
E agora, José?
O corpo de Lucas está no Instituto Médico Legal de Anápolis. Aguarda — se é que os mortos podem aguardar algo — o resultado de exames para então ser liberado à família. Será velado no Espaço Serenidade, um nome que soa quase como uma piada de mau gosto diante da situação.
O enterro? Amanhã, no Cemitério Jardim da Saudade. Que nome apropriado — e ao mesmo tempo tão dolorosamente óbvio.
A Polícia Rodoviária ainda investiga o que realmente aconteceu naquela manhã fatídica. As causas, os porquês, os "e ses" que sempre surgem depois dessas tragédias. Mas a verdade é que nenhuma explicação vai devolver Lucas à sua família, aos seus planos, à sua vida que mal havia começado.
E assim segue o mundo — implacável, indiferente. Enquanto em Anápolis, uma família aprende da pior maneira possível que a vida pode mudar completamente em questão de segundos. Num piscar de olhos, num instante qualquer numa rodovia de Goiás.