
Era para ser mais um dia de esperança. Mais uma tentativa de construir uma vida melhor longe de casa. Mas o destino, caprichoso e impiedoso, resolveu escrever um final diferente para a história de um jovem acreano que há quatro anos trocou a terra natal pelas promessas de Santa Catarina.
A motocicleta desgovernada na BR-470, em Taió, no Vale do Itajaí, na última sexta-feira não carregava apenas um condutor. Levava sonhos, planos e a coragem de quem ousa buscar oportunidades onde elas parecem florescer. Tinha apenas 24 anos.
Uma vida interrompida no asfalto
Os detalhes são secos, técnicos, mas doem como faca: por volta das 18h30, na altura do km 98 daquela rodovia que corta Santa Catarina, aconteceu o que ninguém espera mas todos temem. O motociclista perdeu o controle do veículo e foi arremessado contra a realidade dura do asfalto.
O resgate chegou rápido, sim. Os bombeiros fizeram o possível — sempre fazem. Mas algumas batalhas já chegam perdidas, e essa era uma delas. O jovem não resistiu aos ferimentos.
Raízes acreanas, sonhos catarinenses
Ele nasceu em Ariquemes, no interior do Acre, mas há quatro anos decidiu que Santa Catarina seria seu novo lar. Quem nunca pensou em recomeçar longe? Em tentar a sorte em terras onde o trabalho parece brotar com mais facilidade?
Sua tia, com a voz embargada pela dor que só quem perde um ente querido conhece, contou que o sobrinho estava justamente em busca de emprego quando a vida resolveu pregar essa peça cruel. "Ele saiu atrás de trabalho", lamenta, como se repetir a frase pudesse fazer sentido do insensato.
O preço da migração
É uma história que se repete Brasil afora — jovens deixando seus estados em busca de melhores condições no Sul do país. Santa Catarina virou quase um símbolo dessa esperança, um ímã para quem acredita que o sucesso profissional mora mais ao sul.
Mas qual o preço dessa jornada? Quantos quilômetros de saudade, quantas noites longe da família, quantas estradas percorridas até que o acaso resolva intervir?
O corpo do jovem será velado e sepultado em Taió, cidade que escolheu para tentar a vida. Longe do Acre, longe da terra onde nasceu, mas cercado pela solidariedade de quem o acolheu.
Um alerta que ecoa nas estradas
Enquanto a família tenta digerir o golpe — e acreditem, alguns golpes a gente nunca digere, apenas aprende a conviver com a dor —, a BR-470 segue seu curso. Carros, caminhões, motos. Gente com pressa, gente distraída, gente sonhando.
Quantos ainda vão cruzar aquele mesmo trecho onde um acreano de 24 anos perdeu o controle da moto e da própria vida? Quantas famílias ainda vão receber a visita indesejada da fatalidade?
O caso segue sob investigação da Polícia Rodoviária Federal. Os técnicos vão apurar causas, analisar condições da pista, do veículo, do condutor. Mas algumas respostas, mesmo quando encontradas, nunca trarão consolo suficiente.
Restam as lembranças de um jovem que ousou sonhar longe de casa. E o alerta silencioso que paira sobre todas as estradas brasileiras: a vida é frágil demais para ser negociada com a pressa.