
O silêncio na capela era tão denso que dava para cortar com faca. Entre velas tremeluzentes e fotos da pequena — sorriso congelado no tempo —, o ar pesava mais que o calor típico do Piauí. Aquele 7º dia não era só ritual. Era um grito mudo de dor.
"Ela adorava desenhar borboletas nos cadernos", contou uma tia, segurando um lencinho já encharcado. Do lado, o irmão mais novo, de 5 anos, apertava um ursinho de pelúcia — último presente da irmã. Detalhes assim, miúdos e dilacerantes, pintavam a cena.
O acidente que chocou a cidade
Na última segunda, o pátio da escola virou palco do impensável. Testemunhas falam em queda de estrutura durante recreio — algo que, pasme, poderia ter sido evitado. "A gente reclama da burocracia, mas quando a fiscalização falha...", suspirou um vizinho, sem completar a frase.
Engenheiros da prefeitura já vistoriaram o local. Relatório preliminar aponta:
- Corrosão em suportes metálicos
- Falta de manutenção preventiva
- Sinais de infiltração ignorados
Números oficiais? Nada ainda. Enquanto isso, pais da escola fazem vaquinha para contratar perito particular. Desconfiança à flor da pele.
O peso da ausência
Na missa, o padre — voz embargada — lembrou que "criança não deveria partir antes dos pais". Alguns aplaudiram. Outros se encolheram nos bancos de madeira, como se o mundo inteiro pesasse nos ombros.
Fora da igreja, um mural improvisado crescia a cada hora: bilhetes, flores de papel, balões coloridos. Uma professora, sem conseguir disfarçar o tremor nas mãos, pendurou o último desenho da aluna: "Ela me disse que era um anjo. Agora..."
O caso virou símbolo da negligência que assola escolas públicas. Nas redes, a hashtag #EscolaSeguraJá ganha força. Enquanto isso, a família — entre luto e revolta — planeja ação judicial. "Não quero dinheiro. Quero que nenhum pai passe por isso", desabafou o pai, olhos vermelhos de tanto chorar.