
A estrada é implacável. Não escolhe seus alvos, não perdoa descuidos. Na última segunda-feira, a BR-262 em Minas Gerais testemunhou mais uma dessas cenas que nos fazem questionar a fragilidade da vida. Um senhor de 72 anos, que dedicava seus dias à fé, teve seu caminho interrompido de forma brutal.
José Alves Pereira. O nome talvez não diga nada à maioria, mas para quem o conhecia, era sinônimo de devoção genuína. Setenta e dois anos de histórias, memórias e, nos últimos tempos, uma dedicação quase que integral às suas crenças religiosas.
O que aconteceu naquele trecho da rodovia?
Por volta das 18h30, o sol já começava a se despedir do dia quando o impensável aconteceu. José caminhava pela margem da pista, como fazia frequentemente em suas peregrinações. Um local conhecido pelos acidentes, diga-se de passagem - aquele trecho da BR-262 já viu cenas parecidas antes.
O motorista de um Ford Ka, um homem de 36 anos, seguiu direto para a delegacia após o ocorrido. Não tentou fugir, não se esquivou da responsabilidade. Coisa rara nos dias de hoje, não é mesmo? Assumiu que não viu o idoso a tempo de evitar a colisão.
A vida interrompida
José não era apenas mais um número nas estatísticas de trânsito. Tinha família, história, uma vida inteira pela frente - mesmo aos 72. Residia no bairro São Dimas, em Divinópolis, e era conhecido por seu jeito tranquilo e sua fé inabalável.
Os peregrinos como ele são figuras comuns nas estradas mineiras. Caminham com uma determinação que muitos de nós perdemos no corre-corre do dia a dia. Carregam poucos pertences, mas uma imensa carga de esperança.
E agora, o que acontece?
O caso foi registrado como homicídio culposo no trânsito - aquele que acontece sem intenção de matar. O condutor prestou depoimento e foi liberado em seguida. Enquanto isso, o corpo de José foi encaminhado ao IML de Formiga para os procedimentos de praxe.
Parece cruel, não? A burocracia da morte seguindo seu curso enquanto uma família chora a perda.
A Polícia Militar Rodoviária assumiu as investigações. Tentam reconstituir os momentos exatos que antecederam a tragédia. Detalhes que podem parecer insignificantes, mas que fazem toda a diferença para entender como tudo se desenrolou.
Reflexão necessária
Quantos Josés ainda precisam perder a vida antes que algo mude? Estradas perigosas, trechos sem iluminação adequada, motoristas distraídos... É uma combinação fatal que se repete com frequência assustadora.
A família do idoso agora enfrenta o doloroso processo de lidar com a ausência. Enquanto isso, nas margens da BR-262, outros peregrinos continuam suas caminhadas. Seguem firmes, talvez um pouco mais receosos, carregando nas costas não apenas suas crenças, mas também o peso dessa recente lembrança.