
Era pra ser um dia comum, desses que a gente nem lembra no mês seguinte. Mas o destino — esse artista caprichoso — decidiu pintar de vermelho o asfalto da Paraíba naquela tarde de julho.
O motorista, que prefere não ter seu nome estampado ("já basta a dor na alma", diz ele), levava uma passageira quando um carro pilotado por um ex-policial civil aposentado cruzou seu caminho de forma brutal. O choque foi tão violento que até os pássaros pararam de cantar por um instante.
O abraço que ficou no desejo
"Queria estar dando um abraço nela agora..." — a voz dele embarga, como se tivesse engolido um punhado de pregos. A passageira não resistiu aos ferimentos. Era uma mulher comum, daquelas que fazem falta no mercado, na fila do pão, na vida.
O ex-agente, segundo testemunhas, parecia ter pressa de chegar a lugar nenhum. A velocidade? Alta o suficiente para transformar metal em papel amassado. E vidas em memórias.
Depoimento que corta como vidro
"Ela tava comentando sobre o almoço de domingo", lembra o motorista, esfregando os olhos vermelhos. "Riu de uma bobagem qualquer... e depois..." — o silêncio dele fala mais que mil boletins de ocorrência.
O caso tá sendo tratado como acidente, mas tem gosto de negligência. O tal ex-policial já foi identificado, mas a Justiça — essa senhora que sempre chega de salto alto — ainda não deu seu veredito.
Enquanto isso, na casa da vítima, sobra espaço na mesa e falta ar no peito dos familiares. O motorista? Esse agora carrega dois pesos: o volante e a lembrança do que poderia ter sido.