
O caso aconteceu numa daquelas manhãs típicas de Salvador, quando o dia ainda está engatinhando e a brisa do mar tenta aliviar o calor que logo virá. Era 29 de setembro de 2023, e um corredor fazia seu treino habitual pela orla — algo que deveria ser rotineiro, mas que se transformou num pesadelo.
O motorista de um Hyundai HB20, digamos, não estava totalmente presente naquele momento. Talvez distraído com o celular, ou quem sabe apenas perdido em pensamentos — o fato é que ele não viu o atleta. O impacto foi inevitável.
As consequências do acidente
O corredor, um homem de 36 anos que preferia as ruas da cidade como sua academia particular, sofreu ferimentos. Não foram leves. Fratura exposta na perna direita — aquilo que qualquer atleta teme mais do que qualquer tempo ruim ou subida íngreme.
Ele foi parar no Hospital Geral do Estado, onde a realidade do que aconteceu deve ter batido com força ainda maior. Enquanto isso, o motorista… bem, ele seguiu em frente. Literalmente. Só parou quando outros testemunhas — pessoas comuns que viraram heróis anônimos — conseguiram interceptá-lo mais adiante.
O longo caminho até a sentença
Agora, quase dois anos depois — tempo suficiente para uma criança aprender a andar, ou para um corredor se recuperar de uma fratura séria — a Justiça finalmente deu seu veredito.
O juiz Rafael Guedes, da 2ª Vara do Juizado Especial Criminal de Salvador, foi categórico: o motorista cometeu lesão corporal grave na direção de veículo automotor. A pena? Dois anos de detenção.
Mas aqui está a reviravolta que faz a gente pensar no sistema de justiça: a pena não será cumprida atrás das grades. Não exatamente.
- Prestação de serviços à comunidade
- Doação de cesta básica
- Pagamento mensal de um salário mínimo ao ofendido
- Suspensão da carteira de motorista por oito meses
Parece brando? Severo? Depende de que lado você está. O que me faz refletir é como a justiça tenta equilibrar punição com reconstrução.
O que isso significa na prática?
O motorista terá que cumprir 25 horas mensais de serviços comunitários — isso durante um ano inteiro. Imagine: doze meses dedicando sábados ou noites a alguma causa pública. Talvez em um hospital, quem sabe ajudando outros que passaram por traumas similares.
Além disso, ele doará cinco cestas básicas para instituição carente. E aqui vem a parte que mais me chama atenção: pagará mensalmente um salário mínimo ao corredor durante oito meses. Não é indenização — é sustento. Algo que ajuda o atleta enquanto se recupera e talvez não possa trabalhar como antes.
Ah, e ele não poderá dirigir até maio de 2026. Oito meses sem pegar um volante numa cidade onde carro é quase extensão do corpo.
Reflexão sobre nossas ruas
Este caso vai além de um simples acidente de trânsito. Ele escancara uma realidade que muitos de nós vivemos diariamente: as ruas se tornaram territórios de disputa entre diferentes modos de locomoção.
Quantas vezes você já viu corredores, ciclistas e pedestres quase sendo atingidos por motoristas distraídos? Eu mesmo já perdi as contas.
A decisão judicial — com sua mistura de punição e reparação — tenta não apenas castigar, mas educar. Será que funciona? Só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: na próxima vez que eu estiver ao volante, vou pensar duas vezes antes de me distrair ao ver um corredor na beira da pista.
O caso serve de alerta para todos nós. Porque no trânsito, às vezes, um segundo de distração pode significar anos de consequências.