
O tempo não cura todas as feridas. Às vezes, ele apenas as expõe ainda mais. E hoje, exatamente doze meses depois daquela noite que mudou tudo, dona Maria (nome preservado) resolveu quebrar o silêncio.
"Nunca ajudou em nada. Nem um 'como você está?'", desabafa a mãe de uma das jovens que perdeu a vida no acidente envolvendo o influenciador Lokinho e sua ex-companheira. A voz dela treme, mas a indignação é firme.
Aquela Noite que Ninguém Esquece
Era um sábado como qualquer outro — até deixar de ser. O carro, um Honda Civic preto, tornou-se o palco de uma tragédia anunciada. Testemunhas contam que a velocidade era absurda para as ruas de Teresina. O resultado? Três vidas interrompidas brutalmente.
Lokinho, que dirigia o veículo, sobreviveu. Sua ex, também. Mas outras três pessoas não tiveram a mesma sorte. Entre elas, a filha de dona Maria.
O Silêncio que Machuca Mais que Palavras
O que mais dói, segundo a mãe, não é exatamente o acidente em si — por mais horrível que isso soe. É o que veio depois. Ou melhor, o que não veio.
"A gente fica se perguntando se a vida deles valeu tão pouco assim", questiona, com aquela mistura de raiva e tristeza que só quem perdeu um filho consegue entender. "Nem para prestar solidariedade apareceram."
Ela conta que, nos primeiros dias, ainda havia esperança de algum gesto. Um contato, uma mensagem, qualquer coisa. Mas o telefone nunca tocou. As redes sociais do influenciador seguiram normalmente — posts, stories, lives. A vida continuou para alguns.
As Marcas que Não São Físicas
Enquanto Lokinho e sua ex seguem com seus processos correndo na Justiça — ele respondendo por homicídio doloso —, as famílias das vítimas enfrentam batalhas invisíveis.
Dona Maria desenvolveu problemas de pressão. Diz que acorda no meio da noite ouvindo barulhos de freios. O apartamento onde mora ficou estranhamente silencioso. "Às vezes pego meu celular para ligar para ela, aí lembro que não adianta mais."
Justiça: Uma Esperança que se Arrasta
O processo judicial segue seu curso, mas a sensação é de que a máquina judiciária anda mais devagar que o sofrimento. Enquanto isso, as famílias se veem obrigadas a reconstruir pedaços de uma vida que não faz mais sentido.
"Não é sobre dinheiro, nunca foi", esclarece a mãe. "É sobre responsabilidade. Sobre entender que ações têm consequências."
Ela faz uma pausa longa antes de completar: "Talvez eles achem que, por serem famosos, as regras sejam diferentes. Mas a dor é a mesma para todo mundo."
Um Ano Depois: O que Mudou?
Nas redes sociais, Lokinho mantém praticamente o mesmo conteúdo de antes. Fotos, vídeos, dancinhas. A vida como performance constante. Já nas casas das vítimas, o vazio permanece material, palpável.
Dona Maria agora frequenta um grupo de apoio para pais que perderam filhos. Diz que é o único lugar onde não precisa explicar nada. "Lá todo mundo entende esse buraco que não fecha nunca."
Enquanto isso, ela espera. Pela Justiça. Por um pedido de desculpas que talvez nunca venha. Pelo dia em que conseguir lembrar da filha sem que a primeira imagem seja a do acidente.
"A gente aprende a viver com a falta", diz, secando as lágrimas. "Mas nunca aceita a indiferença."