Ela acordou cedo como sempre, com aquele frio na barriga de quem sabe que está construindo o futuro. Maria Clara — ou só Clara, como preferiam os amigos — tinha 22 anos e um plano audacioso: tornar-se juíza. Não qualquer juíza, mas aquela que faria diferença. Ironia do destino, foi justo durante o estágio na Polícia Civil, onde buscava entender na prática o funcionamento da Justiça, que a vida decidiu interromper seu voo.
Na manhã de sexta-feira (2/8), por volta das 7h30, um capítulo trágico se escreveu na GO-330. Testemunhas contam que houve uma falha mecânica — ou seria humano erro? — na viatura em que ela estava. O veículo saiu da pista, capotou. Clara não resistiu.
Mais que uma estagiária
Na faculdade, era aquela aluna que ficava depois da aula para debater artigos. "Ela tinha um raciocínio lógico afiadíssimo", lembra o professor de Processo Penal, Carlos Mendonça. No estágio, ia além do protocolo: organizava workshops sobre direitos humanos para os colegas.
- Sonhava em especializar-se em Direito da Criança e do Adolescente
- Voluntária no projeto "Justiça nas Escolas"
- Planejava prestar concurso para o TJ-GO no próximo ano
E agora? Agora resta o vazio. Na delegacia onde estagiava, montaram um memorial improvisado com fotos e post-its de despedida. "Você ia mudar o mundo", diz um deles, com letra trêmula.
O acidente que ninguém viu chegar
A GO-330 naquele trecho é sinuosa, sim, mas os moradores garantem: "Não é perigosa, não". A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as causas — falha nos freios? Excesso de velocidade? Distração? Enquanto isso, na cidade, o burburinho é só sobre como a vida pode ser cruel com quem mais merecia viver.
Clara deixou pais, um irmão mais novo e aquela pilha de livros sublinhados com canetas coloridas — marca registrada dela. Deixou também uma pergunta: quantos talentos o Brasil perde diariamente em acidentes que poderiam ser evitados?
