
O corredor da escola nunca mais será o mesmo. Naquele espaço onde risadas e correria marcavam os intervalos, agora há silêncio — e flores. Muitas flores. A cena que se desenrolou nesta quinta-feira (27) no colégio de Santa Catarina era de partir o coração até do mais durão.
Estudantes, professores e funcionários se reuniram para dizer adeus àquele que era "o piá mais animado da turma", como lembrou a professora de matemática com a voz embargada. O jovem — cujo nome a escola pediu para não divulgar — e sua família inteira foram vítimas de um acidente brutal na BR-470 na semana passada.
Um adeus cheio de lembranças
Não foi um velório comum. A diretora teve a ideia — genial e dolorosa ao mesmo tempo — de recriar a carteira do aluno no pátio. Sobre ela, fotos, bilhetes, o uniforme que ele usava toda segunda-feira e até aquele boné que teimava em não tirar na sala de aula.
"Ele era daqueles alunos que a gente nunca esquece", confessou a coordenadora pedagógica, enxugando as lágrimas com um lenço já molhado. "Sempre com uma pergunta na ponta da língua, sempre pronto para ajudar os colegas."
A dor que une
O que mais chamou atenção foi como a tragédia transformou a dinâmica da escola. Os "grupos" — aquelas panelinhas típicas de adolescente — simplesmente desapareceram. Na hora do recreio, era comum ver a galera do teatro abraçada com o pessoal do futebol, todos igualmente perdidos naquela dor sem manual de instruções.
E os professores? Bem, eles improvisaram uma aula sobre luto que nenhum currículo escolar prevê. "Às vezes a gente esquece que educar é também ensinar a viver — e a perder", filosofou o professor de história, ele mesmo com os olhos vermelhos.
BR-470: uma estrada marcada por tragédias
Enquanto isso, do lado de fora dos muros da escola, a BR-470 segue sua rotina mortal. Só este ano, foram 23 acidentes fatais no trecho — número que sobe assustadoramente nos fins de semana. Os moradores já perderam as contas de quantas cruzes foram plantadas nas margens da rodovia.
"É sempre a mesma história", desabafa um comerciante da região. "Todo mundo sabe que o trecho é perigoso, todo mundo corre, todo mundo se arrisca. Até que um dia..." A frase fica no ar, incompleta, como os sonhos da família que a escola hoje chora.
No final da homenagem, os alunos soltaram balões brancos — alguns com mensagens, outros apenas com o peso do silêncio. E a vida, essa professora dura, segue seu curso. Mas ninguém naquela escola será o mesmo depois dessa quinta-feira chuvosa de julho.