Estudo da Nature revela: chatbots de IA mudam intenção de voto em eleições reais
Chatbots de IA influenciam eleitores, mostra estudo

Um estudo científico de grande impacto revelou que os chatbots de inteligência artificial possuem uma capacidade significativa de alterar a intenção de voto dos eleitores. A pesquisa, publicada na renomada revista Nature, testou o poder persuasivo desses sistemas durante eleições reais nos Estados Unidos, Canadá e Polônia, com resultados que acendem um alerta para as democracias.

Como os experimentos foram conduzidos

Os pesquisadores desenvolveram modelos de IA programados para defender um dos dois principais candidatos em cada disputa eleitoral analisada. No total, milhares de voluntários participaram de interações com esses robôs, que adotavam um tom educado e alegadamente baseado em fatos para convencer as pessoas de que seu candidato era a melhor escolha. É crucial destacar que todos os participantes sabiam que estavam conversando com um agente de persuasão.

Os cenários testados foram concretos: nos Estados Unidos, a simulação ocorreu antes da disputa entre Kamala Harris e Donald Trump, com 2.306 eleitores. No Canadá, os chatbots defendiam Mark Carney, do Partido Liberal, ou Pierre Poilievre, do Partido Conservador. Já na Polônia, a IA argumentava a favor de Rafał Trzaskowski, da aliança centrista-liberal, ou de Karol Nawrocki, associado ao partido de direita Lei e Justiça.

Resultados alarmantes e padrões identificados

Após apenas alguns minutos de conversa, os voluntários começaram a demonstrar maior simpatia pelo candidato defendido pela inteligência artificial. O efeito foi observado tanto entre aqueles que já apoiavam o candidato quanto, e de forma ainda mais intensa, entre eleitores que inicialmente eram contrários a ele.

Os argumentos mais eficazes foram os baseados em políticas públicas concretas, que superaram em persuasão as discussões sobre personalidade dos candidatos. De modo geral, o impacto dessas conversas robotizadas foi maior do que o observado historicamente em experimentos com propagandas políticas tradicionais.

Entretanto, a análise de dezenas de milhares de afirmações feitas pelos modelos revelou um padrão preocupante: em todos os países, os chatbots programados para defender candidatos de direita cometeram mais erros factuais do que os que defendiam candidatos de centro ou esquerda. Isso ocorreu mesmo sob instruções explícitas para serem "verdadeiros". Os pesquisadores associam esse desequilíbrio ao ambiente online de onde os modelos aprendem, onde a desinformação não é distribuída de forma uniforme. Curiosamente, os erros não aumentaram o poder de convencimento dos robôs.

O que isso significa para o futuro das eleições?

Embora os experimentos tenham sido realizados em condições controladas e não simulem perfeitamente o ambiente eleitoral real, os autores do estudo são categóricos em afirmar que os resultados funcionam como um alerta urgente.

A capacidade de um chatbot de manter conversas longas, personalizadas e de baixo custo pode transformar radicalmente o cenário das campanhas políticas. Se a influência é perceptível mesmo quando o eleitor sabe que está sendo alvo de persuasão, o impacto pode ser exponencialmente maior em interações espontâneas ou disfarçadas nas redes sociais e aplicativos de mensagem.

O grande desafio, apontado pelos pesquisadores, é estabelecer regras claras e urgentes para o uso político da inteligência artificial. A necessidade é criar um marco regulatório antes que esses sistemas se tornem atores invisíveis, porém decisivos, nos processos eleitorais ao redor do mundo, colocando em risco a integridade das democracias.