
Os números são animadores — mas escondem um abismo. Pela primeira vez, mais de 80% dos brasileiros navegam na web regularmente. Só que essa estatística, que parece celebrar progresso, mascara uma realidade desigual que teima em persistir.
Enquanto nas capitais a conexão banda larga virou commodity — algo tão básico quanto água encanada —, no interior a coisa muda de figura. "É como se vivêssemos em países diferentes", comenta um técnico agrícola do Piauí que precisa dirigir 15 km para enviar um e-mail.
O retrato da exclusão digital
Os dados mais recentes mostram que:
- 84% da população urbana acessa internet diariamente
- Nas zonas rurais? Apenas 56% — e olhe lá
- Velocidade média nas cidades: 34 Mbps
- No campo: 7 Mbps (quando tem)
E não é só questão de infraestrutura. O preço pesa no bolso — no sertão nordestino, famílias chegam a gastar 12% da renda mensal só para manter um plano básico de dados móveis. "É escolher entre internet e comida", desabafa uma agricultora de Sergipe.
O que explica essa disparidade?
Especialistas apontam três gargalos principais:
- Custo-benefício — operadoras não veem atrativo em investir em regiões de baixa densidade
- Falta de políticas públicas — programas de inclusão digital esbarram em burocracia
- Analfabetismo digital — mesmo onde chega conexão, muitos não sabem aproveitar
"Temos ilhas de excelência tecnológica cercadas de desertos digitais por todos os lados", analisa um pesquisador da UFMG. Ele cita o paradoxo: escolas rurais com laboratórios de informática... que ficam trancados porque não há técnicos para manutenção.
A boa notícia? Algumas iniciativas começam a furar o bloqueio. Cooperativas de internet comunitária no Pará, projetos de satélite educacional no Amazonas, parcerias com produtores rurais em Goiás. Pequenas luzes no fim do túnel — mas ainda insuficientes para iluminar todo o território nacional.
Enquanto isso, o Brasil segue dividido: de um lado, cidades onde crianças aprendem programação; do outro, comunidades onde adultos nunca sequer tocaram num smartphone. Dois países dentro do mesmo mapa — separados por um clique de distância.