
Era uma daquelas figuras que pareciam ter saído diretamente de um filme — e, de certa forma, saíram. Jim Lovell, o lendário astronauta que virou sinônimo de coragem quando tudo dá errado, nos deixou aos 97 anos. Não foi um adeus qualquer: era o último comandante vivo da era Apollo.
Quem não se lembra do dramático "Houston, we have a problem"? Pois foi justamente Lovell quem viveu aquele pesadelo a 300 mil km da Terra, em 1970. A Apollo 13 deveria ser mais uma missão lunar rotineira, mas se transformou numa luta pela sobrevivência que prendeu o mundo inteiro à TV.
De fracasso a lenda
O que poderia ter sido uma tragédia virou aula de improvisação. Com um tanque de oxigênio explodido e sistemas falhando, Lovell e sua equipe transformaram o módulo lunar — frágil como uma lata de sardinhas — num salva-vidas improvisado. Foram quatro dias de tensão que renderam um filme estrelado por Tom Hanks décadas depois.
"Ele tinha aquela rara combinação de sangue frio técnico e carisma natural", contou um ex-colega da NASA, com a voz embargada. "Quando tudo desmoronava, Jim era o tipo de líder que fazia você acreditar que daria certo."
Além da Apollo 13
Mas reduzir Lovell àquele episódio seria injusto. Antes do quase-desastre, ele:
- Participou da primeira missão tripulada à órbita lunar (Apollo 8)
- Foi um dos poucos humanos a ver a Terra inteira de longe — e descreveu a visão como "uma joia azul"
- Acumulou mais de 715 horas no espaço, recorde na época
Depois de se aposentar, virou uma espécie de embaixador não-oficial da exploração espacial. Escreveu livros, deu palestras e — quem diria — até apareceu num episódio de "Os Simpsons".
O mundo perdeu mais que um astronauta. Perdeu um contador de histórias que fez milhões sonharem com as estrelas. Como ele mesmo dizia: "Explorar não é escolha, é imperativo. Não há como conter o espírito humano".