
Parece um contrassenso, mas a realidade dói: enquanto o câncer de mama não perdoa idade, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda engatinha na prevenção para mulheres abaixo dos 50. Especialistas botam o dedo na ferida — e a discussão tá longe de ser mero protocolo.
"É como fechar os olhos pra um tsunami anunciado", dispara a mastologista Dra. Luísa Mendonça, referência no tema. Ela não tá sozinha nessa. Um coro de médicos vem batendo na tecla: a mamografia precisa chegar mais cedo às brasileiras.
Números que não mentem (e assustam)
Dados do INCA dão arrepios:
- 1 em cada 4 casos aparece antes dos 50
- Diagnósticos em mulheres de 30-49 anos subiram 28% na última década
- Mortalidade nessa faixa é 40% maior quando descoberto tardiamente
"A gente tá deixando a bomba-relógio ticar", alerta o oncologista Dr. Rafael Campos, enquanto me mostra gráficos que parecem roteiro de filme de terror.
O dilema do SUS: custo agora ou custo depois?
A matemática é cruel — mas clara. Cada exame negado hoje vira:
- Quimioterapia mais agressiva amanhã
- Internações prolongadas
- Custos que multiplicam por 10
"Tá na hora de virar esse jogo", defende a Dra. Ana Beatriz, do coletivo Mama Alerta. Ela traz um dado perturbador: 68% das pacientes jovens chegam ao médico com tumor já palpável — estágio que diminui drasticamente as chances.
Ah, e antes que alguém solte o "mas a densidade mamária..." — os especialistas já têm resposta. "Tecnologia evoluiu, os protocolos não", cutuca o radiologista Dr. Guilherme Porto, mostrando equipamentos que identificam lesões mesmo em mamas densas.
E as mulheres? O que dizem?
Conversei com dezenas na sala de espera de um posto. Histórias que cortam o coração:
"Com 47 anos, precisei vender minha máquina de costura pra pagar o exame", conta Maria, das tantas Marias que vi chorando. Enquanto isso, no plano privado, a mamografia rola a partir dos 40 — às vezes antes, se houver histórico familiar.
O paradoxo é amargo: quem mais precisa do SUS é quem menos acessa a prevenção. E não, o autoexame não basta. "É como achar agulha em palheiro com venda nos olhos", compara uma enfermeira que prefere não se identificar.
O que muda na prática?
Se a pressão dos especialistas vingar, a revolução seria:
- Exames anuais a partir dos 40 (hoje é 50-69, bienal)
- Triagem personalizada para grupos de risco
- Investimento em equipamentos de última geração
"Não é gasto, é investimento", crava a deputada Júlia Lins, que protocolou projeto nesse sentido. Enquanto a burocracia roda, mulheres continuam no limbo — entre a esperança e o medo do diagnóstico tardio.
Pra fechar com chave de ouro (ou de ferro): numa era que fala tanto em medicina personalizada, continuar com protocolos engessados parece, no mínimo, anacrônico. Ou como diria minha avó: "Remédio preventivo não dói — o que dói é remediar tarde demais".