
Não é novidade para ninguém que a televisão brasileira adora um drama. Mas e quando esse drama sai da tela e começa a moldar a maneira como a sociedade enxerga questões de saúde mental? A coisa fica séria, e é exatamente sobre isso que precisamos falar.
As novelas, essa paixão nacional, frequentemente caem na armadilha perigosa de criar uma representação única e caricata da mulher com problemas psicológicos. Ela é quase sempre a vilã desvairada, a personagem trágica e obsessiva, ou a coitada que precisa ser salva por um amor. Cadê a nuance? Cadê a humanidade?
O Efeito do Diagnóstico de Poltrona
Um dos problemas mais gritantes? A tal da “psicologização de plantão” que as tramas promovem. De repente, todo mundo vira especialista, diagnosticando personagens – e por tabela, pessoas na vida real – com bipolaridade ou borderline baseado num surto dramático de meia hora. É um desserviço colossal.
Ah, e não podemos esquecer da romantização. Sofrimento mental virou enredo barato para gerar clímax emocional, como se a dor psíquica fosse um acessório narrativo bonito. Spoiler: não é.
Por Que Precisamos de Espelhos Reais
A verdade nua e crua é que milhões de brasileiras vivem com transtornos mentais reais, todos os dias. Elas não são um arquétipo. Elas são pessoas complexas, com empregos, famílias, alegrias e uma luta constante que a TV reduz a um clichê.
Quando a maior janela para o assunto é uma ficção que distorce tudo, o estigma só aumenta. A pessoa evita buscar ajuda porque não se vê naquela imagem grotesca. O preconceito se alimenta desse retrato falho.
O que está em jogo aqui vai muito além da nota de audiência. É sobre responsabilidade social. É sobre entender que essas histórias, mal contadas, têm o poder real de machucar.
O apelo, então, é direto: que roteiristas, diretores e canais abram os olhos. Que busquem consultoria especializada, que aprofundem a pesquisa, que tenham a coragem de mostrar a realidade multifacetada da saúde mental. A nossa sociedade agradece.