Câncer do Colo do Útero: Diagnóstico Tardio Custa uma Fortuna aos Cofres Públicos
Câncer do colo do útero: diagnóstico tardio custa 5x mais ao SUS

O que acontece quando o sistema de saúde falha em detectar a tempo um dos cânceres mais preveníveis que existem? O resultado é um rombo financeiro monumental — e, claro, tragédias humanas evitáveis.

Um estudo recente, que analisou dados de 2012 a 2021, expôs uma ferida aberta no SUS: o custo médio para tratar um caso avançado de câncer do colo do útero é cinco vezes maior do que lidar com a doença em estágio inicial. Cinco vezes! Enquanto um diagnóstico precoce sai por aproximadamente R$ 6,6 mil, o tratamento de casos tardios dispara para mais de R$ 33,5 mil.

E olha, a coisa é ainda mais assustadora. A pesquisa, conduzida por uma aliança entre a farmacêutica Takeda e a CONASEMS (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), mostrou que a esmagadora maioria dos casos (quase 60%!) já chega ao sistema de saúde em fase avançada. Traduzindo: o problema não é pontual, é estrutural.

Por que o diagnóstico chega tão tarde?

Bom, aí a gente entra num labirinto de problemas crônicos. Acesso difícil ao ginecologista, filas intermináveis para fazer o exame preventivo (o Papanicolau), desinformação e, vamos combinar, aquele medo cultural de ir ao médico — tudo isso forma uma barreira quase intransponível para milhares de mulheres.

Não é exagero. Só em 2022, o SUS registrou a impressionante marca de 135 mil hospitalizações por causa desse tipo de câncer. Foram mais de 6,5 mil vidas perdidas. Números frios que escondem histórias de mães, filhas, avós.

A conta que não para de subir

O impacto financeiro é avassalador. Só entre 2019 e 2021, os gastos do SUS com internações por câncer cervical ultrapassaram a casa dos R$ 230 milhões. É dinheiro que poderia estar sendo investido em prevenção, em campanhas de alerta, em ampliar o acesso aos postos de saúde. Em vez disso, é consumido por tratamentos complexos e, muitas vezes, paliativos.

E tem mais um detalhe crucial: a desigualdade regional. Os dados mostram que o Norte e Nordeste concentram as taxas mais altas de mortalidade. Não por acaso, são regiões onde o acesso à saúde básica é mais precário. A falta de um posto de saúde com um microscópio para analisar as lâminas do preventivo pode ser a linha entre a vida e a morte.

O que fazer então? Especialistas batem na mesma tecla: é urgente fortalecer a Atenção Primária. A Estratégia Saúde da Família precisa ser a espinha dorsal do combate. Capacitar agentes comunitários, garantir que o exame chegue a mulheres em áreas remotas, investir pesado em educação — porque informação, no fim das contas, também é remédio.

O câncer do colo do útero é majoritariamente causado pelo HPV, um vírus contra o qual já existe vacina disponível no SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Vacinar os adolescentes hoje é evitar uma tragédia — e uma despesa colossal — amanhã.

O recado que fica é claro. Negligenciar a prevenção é uma escolha burra — e caríssima. Para o bolso e, principalmente, para milhares de vidas.