
Quem diria que aquelas pecinhas espalhadas pela mesa seriam o elo perfeito entre gerações? Em Dourados, interior de MS, um advogado aposentado e sua filha descobriram na arte dos quebra-cabeças muito mais que passatempo - encontraram linguagem própria para sentimentos que palavras não dizem.
Das peças soltas à obra-prima afetiva
"Começou como distração durante a pandemia", confessa Carlos, 68 anos, enquanto ajusta com cuidado uma peça minúscula. "Agora é nosso código secreto". A filha Marina, 32, ri ao lembrar: "Ele fingia precisar de ajuda pra montar, mas só queria companhia".
Juntos, já montaram:
- Um mapa-múndi de 3.000 peças (que virou decoração fixa na parede da sala)
- Releituras de obras de Portinari (a paixão secreta do pai)
- Até um retrato da cachorrada da família - desafio que quase os fez desistir
Terapia com encaixe perfeito
Psicólogos locais têm observado fenômeno curioso: o hobby virou ferramenta terapêutica. "Montar quebra-cabeças ativa memórias afetivas de forma única", explica Dra. Renata Gomes. "E quando feito em dupla? Melhor que sessão de família".
Marina conta que nas peças difíceis - aquelas que parecem não ter lugar - descobriu paciência. O pai, por sua vez, encontrou jeito novo de dizer "te amo" sem pronunciar palavra. "A gente fica horas calado, mas conversa pra caramba", define ela, com a sabedoria de quem aprendeu a escutar os silêncios.
O mercado das conexões em peças
Lojas especializadas na região registraram aumento de 40% nas vendas nos últimos dois anos. "As famílias estão redesco brindo o prazer de atividades offline", comenta o dono da Puzzle Mania, enquanto organiza prateleiras. Os preferidos? Cenários naturais do Pantanal e réplicas de pinturas famosas.
E tem quem leve a sério: grupos no WhatsApp reúnem mais de 500 "montadores profissionais" trocando dicas. Um deles, inclusive, organiza encontros mensais na Praça Antônio João. Leva seu quebra-cabeça, divide a mesa com estranhos e - quem sabe? - no final, ganha novos amigos.
Enquanto isso, na casa de Carlos e Marina, a próxima obra já começou: um mosaico de 5.000 peças da Paris do século XIX. "Vai demorar meses", prevê o pai. "Mas a graça tá justamente aí", completa a filha, já separando as bordas.