Músico de Blumenau transforma tragédia em arte: como o fogo reacendeu laços familiares
Músico transforma incêndio em recomeço familiar em Blumenau

Era uma terça-feira qualquer quando as chamas resolveram escrever um novo capítulo na vida do músico Eduardo Schmidt. O fogo — esse artista imprevisível — devorou em poucas horas instrumentos, partituras e lembranças acumuladas por décadas em seu apartamento no centro de Blumenau. Mas no lugar das cinzas, nasceu algo inesperado: a reconciliação.

"Quando vi meu violão virando fumaça, pensei que tinha perdido minha voz", confessa Eduardo, os olhos ainda marcados pela lembrança. O que ele não sabia? Que o destino estava prestes a afinar cordas muito mais importantes — as da família.

Do caos à melodia

Nos primeiros dias após o desastre, vieram as doações. Vizinhos trouxeram roupas, um primo emprestou um colchão, e aí... aconteceu o improvável. O irmão, com quem não trocava mais que mensagens formais há anos, apareceu com um violão novo.

"Ele chegou sem discurso pronto, só disse: 'Toca alguma coisa pra gente esquecer o fogo'". E foi nesse instante — entre um acorde desafinado e as risadas que vieram depois — que Eduardo percebeu: as chamas tinham queimado barreiras invisíveis.

A reconstrução que ninguém esperava

Enquanto a seguradora arrastava os pés (como sempre), a família Schmidt redescobria antigos rituais:

  • As noites de terça viraram "sarau da reconstrução"
  • A sobrinha adolescente, que mal olhava para os tios, começou a escrever letras
  • Até a avó de 82 anos reapareceu com receitas de bolachas que ninguém comia desde 2009

"É engraçado", reflete Eduardo enquanto ajusta as cordas do presente inesperado. "A gente passa a vida acumulando tralhas, e quando perde tudo, descobre que o essencial estava guardado em outro lugar — nas pessoas."

Hoje, seis meses depois do incidente, o apartamento está quase como antes. Quase. Porque nas paredes, onde antes havia diplomas e quadros caros, agora há fotos de família e um mural de mensagens deixadas por quem ajudou no pior momento. E no centro da sala, sempre um violão à espera das próximas histórias.