Desabafos de filhos gays e pais heterossexuais: livro revela diálogos emocionantes de famílias ao redor do mundo
Livro reúne desabafos de filhos gays e pais heterossexuais

Imagine a cena: uma mesa de bar, um café compartilhado, o silêncio confortável entre um pai e seu filho. De repente, uma revelação que muda tudo. É nesses momentos frágeis — e corajosos — que se constroem as histórias que a jornalista baiana reuniu em sua nova obra.

O livro, lançado nesta quarta-feira (24) em Salvador, não é apenas mais um trabalho sobre diversidade. É um mosaico de vozes reais, um verdadeiro baú de segredos familiares desbloqueados. A autora mergulhou fundo nas relações entre pais heterossexuais e seus filhos gays, bissexuais e trans, coletando depoimentos de famílias do Brasil, Portugal, Argentina e até do Japão.

Uma colcha de retalhos emocional

O que mais impressiona — e dói um pouco, para ser sincero — é a autenticidade crua desses relatos. São cartas, e-mails, áudios de WhatsApp transformados em literatura. A jornalista atuou quase como uma cartógrafa das emoções, mapeando territórios familiares desconhecidos.

"Recebi depoimentos que me fizeram chorar no computador", confessa a autora, com uma voz que ainda parece carregar o peso dessas histórias. "São narrativas de medo, sim, mas também de uma coragem absurda. De amor que precisou ser reaprendido."

Do choque à aceitação: a jornada dos pais

Um dos aspectos mais fascinantes da obra é como ela explora — sem julgamentos fáceis — o processo dos pais heterossexuais. Aquele primeiro impacto, a confusão, as perguntas que não calavam. E depois, devagarzinho, a descoberta: meu filho é o mesmo, só que mais verdadeiro.

Há relatos de pais que levaram anos para digerir. Outros que aceitaram quase instantaneamente. Um depoimento de um pai português é particularmente comovente: "Achei que tinha perdido meu filho, quando na verdade estava ganhando a pessoa que ele realmente era".

Salvador como palco do lançamento

Não por acaso o livro nasce na capital baiana. Salvador, com sua mixagem cultural única, parece o berço ideal para uma obra sobre diversidade. O evento de lançamento — que rolou numa livraria histórica do Pelourinho — teve clima de reencontro familiar.

"A cidade abraçou o projeto desde o início", conta a autora, visivelmente emocionada com a recepção. "Talvez porque a Bahia entenda como poucos lugares que a vida é feita de contrastes que se complementam."

Para além do nicho: uma leitura universal

O que poderia ser um livro "para um público específico" revela-se, na verdade, uma reflexão sobre amor familiar em seu sentido mais amplo. As histórias falam de algo que todo mundo entende: o medo de não ser aceito por quem mais amamos.

E talvez aí esteja a grande sacada da obra — ela não fala apenas sobre ser gay ou sobre ser pai de alguém gay. Fala sobre a dificuldade (e a beleza) de nos reconhecermos nos olhos daqueles que nos criaram.

O livro já está disponível nas principais livrarias de Salvador e também em plataformas online. E digo por experiência: é daqueles que a gente lê de uma sentada só, mas que fica ecoando na cabeça por dias.