
O plenário virtual do Supremo Tribunal Federal transformou-se num palco de tensões silenciosas nesta quarta-feira. E o protagonista involuntário desse teatro mudo foi ninguém menos que o ministro Luiz Fux.
Enquanto a ministra Cármen Lúcia proferia seu aguardado voto no processo que pode decidir o futuro político de Jair Bolsonaro, as câmeras capturaram algo extraordinário: cada músculo do rosto de Fux contava uma história paralela. Não eram reações explícitas, claro – estamos falando de um veterano da toga que conhece cada milímetro desse tabuleiro de xadrez jurídico. Mas entre um suspiro quase imperceptível e um olhar fixo na tela, havia toda uma narrativa não verbal se desenrolando.
O momento mais eloqüente? Talvez quando Cármen Lúcia abordou pontos específicos do processo. Fux, então, congelou por instantes que pareceram eternos. Seus dedos, que antes tamborilavam levemente na mesa, pararam subitamente. Seu queixo inclinou-se para frente, os olhos estreitaram-se numa concentração quase palpável. Era como se cada neurônio estivesse processando não apenas a letra da lei, mas as imensas consequências políticas daquela fala.
Em outros momentos, seu corpo parecia dialogar com o discurso da colega. Um leve arquejar de sobrancelhas aqui, um rápido movimento de lábios ali – quase como se estivesse ensaiando mentalmente respostas para argumentos que ouvia. Nada explícito, nada que pudesse ser usado contra ele. Apenas a dança sutil de quem vive e respira direito há décadas, mas não consegue (ou não quer) completamente apagar suas humanas reações instintivas.
Ah, e os silêncios! Entre uma pausa da ministra e outra, Fux parecia mergulhar em profundos oceanos de pensamento. Seu olhar perdia-se momentaneamente no vazio, como se calculasse não apenas implicações jurídicas, mas o terremoto político que cada vírgula daquela decisão poderia provocar. Não era apenas um juiz analisando tecnicidades – era um homem no olho do furacão de uma das tempestades políticas mais intensas dos últimos anos.
O que torna essas microexpressões tão fascinantes é justamente sua ambiguidade. Interpretá-las é como ler chá de folhas soltas – cada observador vê o que quer ver. Os apoiadores de Bolsonaro certamente encontrarão preocupação e ceticismo nelas. Já os opositores, talvez vejam concordância e serenidade. A verdade? Provavelmente repousa em algum lugar entre esses extremos, no território nebuloso onde o jurídico e o político se entrelaçam de forma inseparável.
Uma coisa é certa: num julgamento desta magnitude, onde cada palavra é dissecada e cada vírgula analisada, até o que não é dito – ou melhor, até o que é expresso sem palavras – acaba se tornando parte crucial do espetáculo democrático. E Fux, talvez sem querer, tornou-se co-protagonista desse drama silencioso que corre paralelo aos formalismos jurídicos.