O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez um pronunciamento dramático à nação nesta sexta-feira (21) onde classificou o momento atual como um dos mais difíceis da história do país e insinuou que aceitar o plano de paz proposto por Donald Trump significaria abrir mão da dignidade nacional.
Pressão internacional e decisão difícil
Em meio a crescentes pressões da Casa Branca para que aceite um acordo de paz que representaria significativas concessões, Zelensky descreveu a Ucrânia como estando diante de uma encruzilhada histórica. O mandatário destacou que a pressão sobre o país atingiu seu auge e que a nação enfrenta escolhas extremamente difíceis.
"Estamos agora em um dos momentos mais difíceis da nossa história. A pressão sobre a Ucrânia está no auge", declarou Zelensky em seu discurso. "A Ucrânia pode se encontrar agora diante de uma escolha muito difícil: ou a perda de sua dignidade, ou o risco de perder um parceiro crucial; ou os 28 pontos [do plano de paz de Trump], ou um inverno extremamente difícil, o mais difícil", acrescentou.
Os termos controversos do plano americano
A proposta de paz elaborada pela administração Trump estabelece condições que têm causado alarme entre os aliados europeus da Ucrânia. Segundo os detalhes divulgados, o acordo prevê:
- Cessão de toda a região do Donbass, incluindo as províncias de Donetsk e Lugansk, à Rússia
- Limitação do exército ucraniano a 600 mil efetivos
- Anistia para ambos os países, impedindo que dirigentes russos sejam processados por crimes de guerra
- Pacto de não agressão entre Europa, Rússia e Ucrânia
- Realização de eleições para sucessão de Zelensky em até 100 dias após a assinatura
- Colocação da usina de Zaporizhzhia sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica
- Renúncia definitiva da Ucrânia à entrada na OTAN
Em contrapartida, a Ucrânia obteria "garantias de segurança" contra eventuais futuros ataques de Moscou, incluindo a presença de um esquadrão de caças europeus na vizinha Polônia. Nesse esquema, uma agressão contra Kiev seria tratada como um ataque a "toda a comunidade transatlântica".
Prazo curto e apelo por união nacional
Enquanto isso, Donald Trump mantém pressão sobre Zelensky para aceitar rapidamente a oferta, estabelecendo um prazo até 27 de novembro - quinta-feira da próxima semana. "Quinta-feira [27] é o dia certo para nós", declarou o presidente americano à Fox News, em referência ao Dia de Ação de Graças.
Zelensky, por sua vez, fez um apelo por união nacional, num momento em que o país enfrenta um terremoto político causado por escândalos de corrupção que derrubaram ministros e altos dirigentes nos últimos dias. "Precisamos nos unir, parar com as bobagens e com os jogos políticos. O Estado tem de funcionar, o Parlamento de um país em guerra precisa trabalhar de forma eficaz", salientou.
O presidente ucraniano garantiu que "não daremos nenhum motivo para o inimigo dizer que a Ucrânia não quer a paz e não está pronta para a diplomacia", mas deixou claro que os interesses ucranianos precisam ser "levados em consideração" em qualquer negociação.
A divulgação dos detalhes do plano Trump provocou reações de preocupação entre os aliados europeus da Ucrânia, que realizam ligações de última hora para tentar propor alternativas menos draconianas para Kiev.