O governo dos Estados Unidos rejeitou categoricamente a proposta brasileira de mediar um acordo diplomático entre Washington e Caracas, ignorando um gesto que poderia aliviar a crescente tensão no Caribe. A negativa ocorre em um momento em que as relações entre as duas capitais se deterioram rapidamente.
Oferta brasileira ignorada
Durante um encontro recente na Ásia, o presidente Lula ofereceu pessoalmente aos Estados Unidos a mediação brasileira no conflito com a Venezuela. A proposta foi feita diretamente ao presidente Donald Trump, que no entanto fez "ouvidos de mercador" à iniciativa brasileira.
O gesto americano sinaliza claramente que ações pacificadoras não interessam no momento atual. O objetivo real da administração Trump é a derrubada de Nicolás Maduro, usando como justificativa as profundas ligações do líder venezuelano com o narcotráfico internacional.
Silêncio estratégico de Caracas
Do outro lado do conflito, o governo venezuelano também manteve silêncio sobre a oferta brasileira. Maduro parece mais animado com a proteção oferecida pelas boas relações já consolidadas com Moscou e Pequim, capitais que hoje possuem influência comparável à de Washington.
Entretanto, na semana passada Caracas manifestou gratidão pelo apoio recebido de Brasília, em uma demonstração de que as relações entre Brasil e Venezuela seguem fortalecidas.
Oportunidade perdida
Especialistas apontam que ambas as capitais em conflito poderiam ter aceitado o gesto brasileiro, mesmo que apenas para ganhar tempo a seu favor. A mediação ofereceria fôlego para que ambos os lados pudessem tentar sensibilizar outros governos latino-americanos em torno de suas causas.
A expectativa de interesse geral parece simples, mas é bastante real: se a crise no Caribe evoluir para incursões militares, ninguém se beneficiará da instabilidade continental. As relações diplomáticas ficariam suspensas e os negócios seriam severamente afetados.
Custo político para o Brasil
Com a recusa americana ao papel de mediador, o presidente brasileiro viu-se na contingência de oficializar apoio ao governo venezuelano. A decisão tem um custo político significativo, pois o gesto amistoso em direção a Maduro ocorre justamente quando o Brasil gostaria de preservar a "química" com Trump, de quem agora se distancia um pouco mais.
Ao tomar partido na disputa, o Brasil enterra seu papel de árbitro neutro no conflito entre Estados Unidos e Venezuela.
Tradição diplomática brasileira
A recusa em utilizar os préstimos da diplomacia brasileira para superar problemas continentais vai contra a tradição histórica do país. A História brasileira está repleta de exemplos bem-sucedidos de mediação que consagraram homens da envergadura e competência de Rio Branco e Nabuco.
Nossos diplomatas especializaram-se na superação de grandes conflitos internacionais. Não foi diferente com Melo Franco, ao construir o reatamento das relações entre Uruguai e Peru, interrompidas desde dezembro de 1930, como também no acerto da fronteira das Guianas.
Outro marco importante foi a mediação brasileira na Questão de Letícia. Muito antes, já o Visconde de Cavalcânti atuara com sucesso na complicada demarcação da fronteira com a Bolívia.
O Brasil sempre foi um excelente fazedor de pazes na região. O país poderia reeditar esse talento histórico se conseguisse levantar uma bandeira branca entre Venezuela e Estados Unidos, mas a oportunidade parece estar se fechando rapidamente.