A Academia Brasileira de Letras (ABL) deu um passo histórico em sua jornada de renovação ao receber, como sua mais nova integrante, a escritora Ana Maria Gonçalves. Aos 54 anos, a mineira de Ibiá não apenas se tornou a mais jovem entre os "imortais", mas também a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na casa que foi fundada por Machado de Assis, também negro.
Uma posse com missão declarada
A cerimônia de posse, realizada ainda em 2025, foi marcada por um discurso firme e cheio de propósito. Ana Maria Gonçalves deixou claro que não pretende ser uma ocupante passiva da cadeira de número 33. "Uma das minhas missões é promover a diversidade nesta casa e fazer avançar as coisas que nela eu sempre critiquei", declarou a autora, sinalizando que trará ideias para agitar os corredores da centenária instituição.
Com uma trajetória literária consolidada, Gonçalves chega à ABL com o peso e o reconhecimento de um fenômeno editorial. Seu romance "Um Defeito de Cor" é considerado um dos livros mais importantes do século, com uma impressionante marca de mais de 180 mil exemplares vendidos. A obra, um best-seller que resgata narrativas fundamentais para a compreensão da história brasileira, foi um dos principais cartões de visita para sua eleição.
O simbolismo de uma cadeira histórica
A entrada de Ana Maria Gonçalves na ABL carrega um profundo simbolismo. Ela ocupa a cadeira 33, em uma instituição que, apesar de ter sido fundada por um grande escritor negro, Machado de Assis, historicamente teve pouca representatividade de autores negros e, em especial, de mulheres negras em seu quadro de imortais.
Sua eleição e posse são vistas como uma resposta a anos de críticas sobre a falta de diversidade na Academia. O movimento é parte de um esforço de renovação e inclusão que a ABL vem tentando promover, abrindo espaço para vozes que representam melhor a pluralidade da literatura e da sociedade brasileira.
O que esperar da nova imortal?
Além do compromisso com a diversidade, Ana Maria Gonçalves traz para a ABL o frescor de uma autora em plena atividade criativa e o olhar de quem chegou ao topo do reconhecimento literário nacional por meio de uma obra de grande relevância social e histórica. Sua presença promete influenciar não apenas as discussões internas da Academia, mas também a forma como a instituição se relaciona com o público e com os debates contemporâneos.
A posse da escritora foi registrada na edição de 24 de dezembro de 2025 da revista VEJA (edição nº 2976), destacando o fato como um dos eventos marcantes do ano no cenário cultural brasileiro. A reportagem contou com a colaboração de Giovanna Fraguito e Nara Boechat.
O caminho agora está aberto. A comunidade literária e a sociedade observam como a promessa de Ana Maria Gonçalves se transformará em ação, e de que forma sua voz irá, de fato, contribuir para uma Academia Brasileira de Letras mais plural e representativa no século XXI.