
Enquanto o país respira aliviado nas férias de julho, um silêncio preocupante ronda o plenário da Câmara. Nas entrelinhas do recesso parlamentar, tramita um projeto que — pasmem — pode desmontar décadas de proteção ambiental num piscar de olhos.
O que está em jogo?
Não é exagero dizer que estamos diante de uma bomba-relógio. O PL 3729/2004, que flexibiliza o licenciamento ambiental, está na fila para votação em regime de urgência. Traduzindo: pode virar lei sem debate, sem transparência, enquanto você aproveita seu café da manhã.
"É como entregar as chaves do zoológico para as raposas", dispara um ambientalista que prefere não se identificar. Os números assustam:
- 85% dos grandes desastres ambientais brasileiros poderiam ser evitados com licenciamento rigoroso
- Projeto reduz exigências para obras estratégicas — de hidrelétricas a agrotóxicos
- Autodeclaração substituiria vistoria técnica em casos "menores" (e quem define o que é menor?)
O timing suspeito
Julho. Mês de praia, Netflix e — coincidência? — votações polêmicas a portas fechadas. Enquanto a imprensa reduz seu efetivo, alguns deputados parecem aproveitar o vácuo para empurrar goela abaixo mudanças que, em período normal, gerariam protestos.
"É a velha tática do fato consumado", resmunga uma assessora parlamentar. "Quando o povo perceber, já estará de pé a primeira mineradora em área de preservação."
E os impactos reais?
Para além do juridiquês, o que muda na prática? Imagine:
- Sua cidade pode ganhar uma termelétrica sem estudo de impacto na saúde
- Rios inteiros podem virar depósito de rejeitos — com aval prévio
- O agronegócio ganha carta branca para desmatar (ops, "limpar") áreas sensíveis
E o pior? Tudo dentro da lei. Ou melhor, da nova lei que querem aprovar nas coxas.
Não é à toa que o Ministério Público já prepara ações. "Vamos judicializar cada vírgula", promete um procurador que acompanha o caso. Mas será que a Justiça conseguirá frear o trem desgovernado?
Enquanto isso, nas redes sociais, o assunto mal esquenta. Entre memes e férias, o Brasil parece anestesiado para o maior retrocesso ambiental desde... bem, desde o último.