As forças russas intensificaram sua ofensiva terrestre no leste da Ucrânia nesta segunda-feira, 29 de dezembro de 2025, anunciando a captura de um novo vilarejo na região de Donetsk. Paralelamente, bombardeios atingiram áreas civis, causando vítimas, enquanto as negociações diplomáticas para encerrar o conflito, iniciado em fevereiro de 2022, seguem sem resultados decisivos.
Avance militar e baixas civis em Sloviansk
O Ministério da Defesa da Rússia declarou ter assumido o controle da vila de Dibrova, localizada na conturbada região de Donetsk. A informação, divulgada oficialmente por Moscou, ainda não foi confirmada de forma independente pelas Forças Armadas da Ucrânia, que mantêm Donetsk como o principal epicentro dos combates.
Enquanto isso, a violência atingiu diretamente a população civil. Autoridades locais ucranianas relataram que ataques russos contra a cidade de Sloviansk, também no leste do país, resultaram em ao menos uma pessoa morta e cinco feridas. Os confrontos pesados não se limitaram a Donetsk, sendo registrados também nas regiões de Kharkiv, Dnipropetrovsk, Zaporizhzhia e Kherson, conforme informou Kiev.
Em meio à escalada, o Exército russo fez alegações sobre baixas militares ucranianas, afirmando que mais de 1.350 soldados teriam sido mortos nas últimas 24 horas, especialmente em Donetsk e Dnipropetrovsk. Esses números, no entanto, não puderam ser verificados por fontes independentes. Vídeos divulgados por Moscou mostram o uso de lançadores múltiplos de foguetes Grad e ataques a supostos centros de controle de drones ucranianos.
Diplomacia e impasses nas negociações de paz
A pressão militar ocorre no mesmo momento em que esforços diplomáticos, liderados pelos Estados Unidos, tentam encontrar uma saída para a guerra. No domingo, 28 de dezembro, o presidente americano, Donald Trump, reuniu-se com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Flórida. Ambos afirmaram haver progresso em um possível acordo de paz.
Analistas internacionais, contudo, avaliam que o discurso otimista não reflete a realidade no campo de batalha nem os impasses centrais da negociação. Para Scott Lucas, professor de política internacional da University College Dublin, questões estruturais permanecem sem solução. Entre os principais pontos de atrito estão:
- A duração das garantias de segurança oferecidas à Ucrânia.
- O controle dos territórios atualmente ocupados pela Rússia.
- A definição sobre o futuro da Usina Nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa.
"O objetivo de Kiev e de seus aliados europeus é manter a iniciativa política e evitar que Moscou dite os termos do acordo", afirmou Lucas em entrevista à Al Jazeera.
Desgaste humano e preparação para guerra prolongada
O Kremlin voltou a defender publicamente que a Ucrânia retire suas tropas das áreas do Donbas que ainda controla como condição essencial para a paz. O porta-voz Dmitry Peskov foi enfático ao declarar que, sem essa retirada, não haverá acordo. A Rússia afirma controlar cerca de 90% da região de Donbas, que inclui Donetsk e Luhansk, embora estimativas independentes sugiram um percentual menor.
Do lado ucraniano, Zelensky reiterou que a lei marcial só será suspensa após o fim da guerra e a obtenção de garantias de segurança concretas do Ocidente. A medida, em vigor desde o início do conflito, impede a realização de eleições nacionais e restringe a saída de homens em idade militar do país.
O custo humano do conflito continua a aumentar. Autoridades ucranianas relataram mais de 200 confrontos armados ao longo da linha de frente apenas nas últimas 24 horas. Ataques russos também deixaram ao menos três civis feridos na região de Kharkiv, incluindo idosos.
Em um sinal claro de preparação para um conflito prolongado, o Ministério da Defesa russo anunciou o alistamento de 135 mil novos recrutas no último trimestre de 2025. O movimento reforça a avaliação de que Moscou se prepara para sustentar as operações militares independentemente do ritmo das negociações de paz.
Com combates intensos no leste e posições rígidas à mesa de negociação, a guerra entra em seu quarto ano sem sinais claros de um desfecho próximo, mantendo a Ucrânia sob pressão militar constante e testando os limites da diplomacia internacional.