
Eis que o home office, essa maravilha moderna que nos poupa do trânsito e permite trabalhar de pijama, revela seu lado sombrio. O Itaú Unibanco, gigante dos bancos, decidiu demitir um número não divulgado de funcionários que trabalhavam remotamente. E o motivo? Alegadas falhas de produtividade detectadas através de—adivinhe—ferramentas de monitoramento digital.
Parece ficção científica, mas é a mais pura realidade corporativa. A questão que fica, e que deveria preocupar a todos nós, é simples: até onde pode ir o olho digital do patrão?
O que a lei diz sobre vigiar seu computador?
Ah, a lei. Sempre alguns passos atrás da tecnologia. Especialistas consultados pelo G1 foram claros: monitorar existe, mas não é terra sem lei. A CLT e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) impõem barreiras.
Nada daquele vigilância secreta, escondida. A empresa é obrigada a informar, de forma cristalina, que está coletando dados, quais dados e para que fim. É a chamada transparência. Sem surpresas desagradáveis.
- Controle de produtividade: Permitido. Medir metas, prazos, entregas.
- Vigilância constante da tela: Território perigoso. Pode violar a privacidade.
- Captura de imagens por webcam: Área extremamente sensível. Requer consentimento explícito.
- Rastreamento de cliques e teclas: O famoso keylogger. Geralmente visto como invasivo e excessivo.
O princípio é o da proporcionalidade. A empresa pode defender seus interesses, mas não pode transformar sua casa numa extensão do Big Brother.
E quando o monitoramento vira motivo de demissão?
Aqui mora o perigo. Usar dados de monitoramento como única prova para uma demissão por justa causa é um campo minado juridicamente.
Um juiz do trabalho dificilmente aceitará relatórios automatizados de um software como prova incontestável de underperformance sem uma análise contextual mais profunda. O que parece ser baixa produtividade pode ser um dia ruim, problemas técnicos ou, ironicamente, a própria ansiedade causada pelo feeling de estar constantemente vigiado.
O caso do Itaú acende um alerta para milhões de brasileiros no modelo híbrido ou remoto. A comodidade do home office tem um preço: nossa noção de privacidade está sendo redesenhada.
O conselho? Conheça a política de monitoramento da sua empresa. Leia o que você assinou. E fique de olho—porque certamente eles estarão.