
O que você diria se descobrisse que quem ganha milhões no Brasil paga proporcionalmente menos imposto que você? Pois é exatamente isso que está acontecendo, e não é de hoje. Um estudo que mexeu com as estruturas do debate tributário mostrou que, desde 2009, a galera que está no topo da pirâmide tem uma alíquota efetiva de Imposto de Renda menor que a da classe média. Sim, você leu certo: menor.
E olha que não é pouca diferença. Enquanto o contribuinte médio desembolsa cerca de 8% do que ganha, os super-ricos — aqueles que faturam mais de 320 salários mínimos por mês — pagam apenas 7% em média. Parece brincadeira, mas é a pura realidade do nosso sistema tributário.
Como chegamos nessa situação?
A explicação, pra ser sincero, é mais simples do que parece — e mais revoltante também. O problema todo está na forma como a Receita Federal trata os diferentes tipos de renda. Enquanto o trabalhador assalariado tem seu imposto descontado direto na fonte, sem chance de escapar, os mais ricos conseguem usar brechas legais para reduzir drasticamente sua carga tributária.
Estamos falando de coisas como:
- Lucros e dividendos que são isentos — sim, completamente isentos — de Imposto de Renda
- Juros sobre capital próprio que têm alíquotas bem mais baixas
- Uma série de deduções e benefícios fiscais que praticamente não existem para o trabalhador comum
O resultado? Uma distorção que beira o absurdo. Em 2022, por exemplo, os 0,1% mais ricos declararam quase 40% de sua renda como lucros e dividendos — que, como já falei, não pagam um centavo de IR. É de cair o queixo, não é?
E a classe média no meio disso tudo?
Ah, a classe média... Essa que sempre paga a conta. Enquanto os mais ricos navegam tranquilamente por essas brechas, o assalariado comum tem seu imposto retido direto no holerite. Sem escapatória, sem manobras mirabolantes.
O pior é que a situação só piora com o tempo. Desde 2009, a alíquota efetiva dos super-ricos caiu consistentemente, enquanto a da classe média se manteve estável — em patamares mais altos, claro. É como se tivéssemos criado um sistema onde quem mais tem, menos contribui.
E não adianta vir com aquela história de que "rico paga mais imposto em valor absoluto". O que importa aqui é a proporção, caro leitor. Se eu ganho R$ 1.000 e pago R$ 80, enquanto você ganha R$ 100.000 e paga R$ 7.000, quem está sendo mais penalizado? Faz as contas.
E agora, o que fazer?
Bom, o estudo — que analisou dados de basicamente todas as declarações de Imposto de Renda entre 2007 e 2022 — joga uma luz forte sobre esse problema crônico. Os pesquisadores são claros: sem uma reforma tributária que olhe especificamente para essa distorção, a situação não vai mudar.
Algumas propostas já circulam por aí:
- Taxar lucros e dividendos, como fazem a maioria dos países civilizados
- Criar alíquotas mais progressivas para rendas muito altas
- Reduzir a complexidade do sistema, que hoje beneficia quem pode pagar contadores caríssimos
Mas enquanto isso não acontece, seguimos nessa sina: o trabalhador que batalha o mês inteiro sustentando o país com seus impostos, enquanto uma minoria aproveita as benesses do sistema.
É pra fazer a gente pensar — e muito — sobre que tipo de justiça fiscal queremos para o futuro. Porque do jeito que está, tá difícil defender que estamos no caminho certo.