A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) se envolveu em uma disputa política familiar ao se manifestar publicamente contra a aproximação do seu partido com o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) no Ceará. A posição dela gerou críticas abertas dos seus enteados, os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, e resultou em uma longa resposta publicada nas redes sociais na madrugada desta terça-feira, 2 de dezembro de 2025.
O racha familiar na política cearense
A crise começou quando Michelle Bolsonaro, durante um evento público, desautorizou a articulação política conduzida no Ceará pelo deputado André Fernandes (PL-CE), que contava com o aval do próprio ex-presidente. Ela defendeu que o Partido Liberal deveria apoiar integralmente a candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao governo do estado, e não buscar alianças com Ciro Gomes.
Essa postura colocou Michelle em rota de colisão com os filhos de Bolsonaro. Na segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) publicaram manifestações de descontentamento nas redes sociais, criticando a atitude da madrasta.
A defesa pública de Michelle Bolsonaro
Como resposta, na madrugada de terça-feira, Michelle publicou uma nota extensa. Ela iniciou afirmando que não responderia diretamente às manifestações dos enteados, mas aproveitou para explicar seus motivos e reafirmar seus valores.
"Respeito a opinião dos meus enteados, mas penso diferente e tenho o direito de expressar meus pensamentos com liberdade e sinceridade", escreveu. Ela acrescentou: "Antes de ser uma líder política, eu sou mulher, sou mãe, sou esposa e, se tiver que escolher entre ser política, mãe ou esposa, ficarei com as duas últimas opções".
A ex-primeira-dama foi enfática ao justificar sua oposição a qualquer apoio a Ciro Gomes. Ela o classificou como responsável por implantar a narrativa que rotulou Jair Bolsonaro de genocida e lembrou dos vários insultos públicos proferidos pelo político cearense contra o ex-presidente.
Os argumentos centrais da nota
Michelle listou uma série de questionamentos retóricos para fundamentar sua posição:
- Como apoiar um homem que tanto mal causou à sua família?
- Como ficar feliz com o apoio a quem xinga seu marido constantemente?
- Como ser conivente com quem se orgulha de ter contribuído para a inelegibilidade de Bolsonaro?
Ela afirmou que sua manifestação no Ceará foi um ato de defesa da família. "Meu marido tem um coração bom (bom até demais!) e, por isso, tenho o dever de defendê-lo", declarou.
Repercussão e posicionamento familiar
A nota também teve um tom conciliatório em relação aos enteados. Michelle pediu compreensão e perdão, afirmando que não teve a intenção de contrariá-los. "Eu, assim como eles, quero apenas o melhor para o nosso herói, seu pai, meu esposo", finalizou, referindo-se a Jair Bolsonaro.
Junto da publicação textual, a ex-primeira-dama compartilhou uma série de vídeos e notícias que mostram Ciro Gomes criticando Bolsonaro ao longo dos anos, reforçando visualmente seu argumento principal.
O episódio expõe uma fissura na cúpula do bolsonarismo sobre estratégias eleitorais regionais, mostrando que, mesmo dentro do núcleo familiar mais próximo do ex-presidente, há divergências sobre alianças políticas consideradas pragmáticas por alguns e inaceitáveis por outros.