Bolívia acaba com subsídios a combustíveis após 20 anos em medida histórica
Fim de subsídios a combustíveis na Bolívia após 20 anos

O governo de direita da Bolívia decretou o fim de uma política que durou duas décadas: os subsídios aos preços dos combustíveis. O anúncio foi feito pelo presidente Rodrigo Paz nesta quarta-feira, 17 de dezembro de 2025, em um pacote de medidas descrito como uma "decisão histórica para salvar a nação".

Uma medida para frear a crise e a corrupção

Em pronunciamento televisionado ao lado de ministros, Paz justificou a drástica medida. Ele afirmou que os subsídios, em vigor desde os governos de esquerda, abriram espaço para esquemas de corrupção com prejuízos milionários ao erário público. "Os subsídios que foram usados para encobrir a pilhagem não condenarão a Bolívia novamente", declarou o mandatário.

O presidente assegurou que o fim dos benefícios não significa abandono da população, mas sim a busca por "ordem, justiça e redistribuição transparente". A estabilização dos preços, segundo ele, permitirá ao governo gerar recursos fiscais adicionais para outras áreas.

Contexto de escassez e emergência econômica

A decisão ocorre em um cenário crítico para o país andino. Desde 2023, a Bolívia enfrenta longos períodos de desabastecimento de combustíveis, com motoristas formando filas quilométricas e esperando por horas ou até dias nos postos. A economia boliviana também lida com uma inflação que beira os 20% e com uma severa escassez de dólares, moeda que só é encontrada no mercado paralelo a preços muito acima do oficial.

Diante desse quadro, Rodrigo Paz decretou estado de emergência econômica, financeira, energética e social. Ele argumentou que o país não podia mais continuar funcionando com os padrões das últimas duas décadas. Entre as promessas anunciadas estão a simplificação de impostos, incentivos para compra de máquinas, apoio a empreendedores e a liberalização das exportações.

O fim de uma era e as investigações

Rodrigo Paz, um senador de centro-direita, foi eleito em outubro de 2025, interrompendo um ciclo de 20 anos de governos liderados pelo Movimento ao Socialismo (MAS). Logo após sua posse, em novembro, ele acusou os governos anteriores de terem mergulhado o país em um "esgoto de dimensões extraordinárias" e anunciou a abertura de investigações para apurar supostos atos de corrupção.

Uma de suas primeiras ações no cargo foi revogar o imposto sobre grandes fortunas, criado há cinco anos. Paz atribuiu a essa taxação a fuga de cerca de US$ 2 bilhões em capitais do país.

A queda da esquerda no poder ocorreu após uma sucessão de crises, incluindo uma tentativa de golpe de Estado em junho e uma profunda divisão interna no MAS entre os seguidores do ex-presidente Evo Morales e do ex-mandatário Luis Arce. A disputa fragmentou o partido e levou à derrota de seus candidatos no primeiro turno das eleições, abrindo caminho para a vitória de Paz, que prometeu "capitalismo para todos" e o fim da polarização política.