
Pois é, meu amigo. A gente abre o jornal, dá uma olhada nos números oficiais e até pensa: "poxa, será que finalmente as coisas estão melhorando?" Mas aí você esbarra na charge do J.Caesar — aquela de 15 de setembro — e ela te dá uma rasteira na sua ingenuidade.
O traço do caricaturista é certeiro como um estilete. Ele não precisa de gráficos complicados ou discursos cheios de jargões técnicos. Com alguns rabiscos aparentemente simples, ele escancara o que todo mundo sente na prática, mas que os economistas de paletó tentam disfarçar com palavras bonitas.
O que os números não mostram
Enquanto os indicadores macroeconômicos — esses palavrões — podem até apresentar uma leve melhora, a realidade do cidadão comum é outra completamente diferente. O supermercado? Cada vez mais caro. A prestação do carro? Um assalto. E o aluguel? Nem se fala.
É aí que mora o perigo. Acreditar apenas nos dados oficiais é como olhar para o céu estrelado e ignorar que você está pisando num lamaçal. A charge do J.Caesar funciona como um puxão de orelhas necessário, um lembrete ácido de que a teoria, muitas vezes, não sobrevive ao teste da feira livre.
O buraco é mais embaixo
O trabalho do chargista vai além do humor. É uma crítica social da pesada. Ele pega o noticiário econômico — denso, cinzento, cheio de porcentagens — e o traduz numa linguagem que qualquer um entende. E o resultado, convenhamos, é de cortar o coração.
Não é sobre ser pessimista. É sobre ser realista. É sobre encarar de frente o abismo que às vezes separa a realidade dos gabinetes com ar-condicionado da vida real nas periferias e nos interiores do país.
A grande sacada do J.Caesar — e o que faz seu trabalho ser tão genial — é essa capacidade de misturar o cotidiano com a alta política. De mostrar, com um simples balão de texto, como as decisões tomadas em Brasília ecoam — e muito — na mesa do jantar do trabalhador.
É desconcertante. É necessário. E é, acima de tudo, uma forma de resistência. Resistência contra a desconexão, contra os eufemismos, contra a tentativa constante de mascarar a verdade com números frios.
No fim das contas, a charge não dá respostas. Ela faz perguntas. Perguntas incômodas que ficam ecoando na sua cabeça muito depois que você dobrou a página do jornal. E talvez seja justamente isso que a gente mais precise.